terça-feira, 17 de maio de 2011

O país real e as ilhas da fantasia

Para o cidadão comum, que constitui a imensa maioria da população brasileira, aquele que sacoleja em ônibus lotados para ir trabalhar, enfrenta filas para marcar consultas médicas, vê o minguado salário acabar antes do fim do mês e mora em áreas desassistidas pela segurança pública, certas notícias veiculadas pelos meios de comunicação devem parecer surrealistas. No meio político, principalmente, citam-se ganhos e gastos de altas somas como se fosse algo extremamente banal. Agora, por exemplo, o noticiário tem dado conta de que o ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Antônio Palocci Filho, num período de apenas quatro anos, entre 2006 e 2010, aumentou em 20 vezes o seu patrimônio, que passou de R$ 375 mil para cerca de R$ 7,5 milhões! A empresa de consultoria Projeto, de sua propriedade, comprou, no final de 2010, um apartamento em São Paulo por R$ 6,6 milhões. Nem é o caso de se abordar o quão suspeita é essa acumulação de riqueza em tão breve espaço de tempo. Afinal, como muto bem colocou o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, só há duas formas de enriquecer rapidamente: recebendo uma herança ou ganhando na loteria. Independentemente da origem lícita ou não de tais somas, o que é espantoso é o alcance das cifras. O noticiário político dá conta, também, de que um único jantar oferecido pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB - AP) ao ministro César Asfor Rocha, do Superior Tribunal de Justiça, para 60 convidados, custou a quantia de R$ 23,9 mil, que foi paga pelo Senado. Após a revelação da conta pela ONG Contas Abertas, Sarney ressarciu o Senado. Um único jantar a um custo equivalente ao de um carro popular! Passando-se para o noticiário esportivo, tudo segue na mesma toada. Fica-se sabendo, por exemplo, que o técnico do São Paulo, Paulo César Carpegiani, será mantido no cargo, apesar dos resultados insatisfatórios que vem obtendo. O que isso tem de mais? Acontece que Carpegiani permanecerá não porque o clube tenha apreço por seu trabalho, mas pelo fato de sua dispensa implicar no pagamento de uma multa rescisória de R$ 1 milhão, da qual o técnico já informou de que não abre mão. A política e o futebol estão de costas para o país real. São, efetivamente, ilhas da fantasia.