terça-feira, 23 de outubro de 2012

Vício autoritário

O Brasil é um país que ainda não se habituou à prática da democracia. A rigor, o país só vivenciou períodos de efetiva democracia, no plano político, de 1946 a 1964 e de 1985 até os dias de hoje. Como se vê, muito pouco para um país com 512 anos de história. Isso gerou consequências terríveis, e a pior delas é o desapreço de grande parte da população pelas práticas democráticas, a defesa dos direitos humanos, e a pluralidade de ideias e comportamentos. Ao contrário do país libertino e licencioso pintado por alguns, o Brasil é, lamentavelmente, de um conservadorismo muito acentuado. Isso pode ser verificado no atual clima de polarização política que vive o país. A guerra entre PT e PSDB, ou, mais amplamente, entre os partidos de esquerda e os de direita, pelo poder, nunca esteve tão acirrada. Porém, ela não se dá, como deveria, no plano das ideias, mas, sim, em manifestações de ódio e intolerância cada vez mais explícitas. O antipetismo de colunistas como Reinaldo Azevedo e Guilherme Fiúza, das revistas "Veja" e "Época", respectivamente, atingiu um nível fóbico e doentio. Nas redes sociais, a intolerância para com os que pensam diferente é flagrante. Ninguém, por mais ilustre que seja, é poupado. Até mesmo Caetano Veloso, artista notável, foi vítima dessa ira. Por ter dito que apoia a candidatura de Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM) para prefeito de Salvador, Caetano foi atacado por muitos no Facebook. A opção política do cantor e compositor, nesse caso, é surpreendente e lastimável, mas não dá a ninguém o direito de ofendê-lo ou tentar diminuir a qualidade do seu trabalho. A democracia ainda é uma planta frágil no Brasil. Precisa de muito sol e água para que possa crescer e atingir a maturidade. A radicalização de posições em nada colaborará para isso. A postura autoritária é uma marca perceptível tanto da esquerda quanto da direita. Todos querem, apenas, fazer valer sua visão de mundo, excluindo os contrários. Menos mal que, com tantos apostando no pior, as instituições brasileiras tem mostrado solidez. Contra a vontade dos radicais, o Brasil, mesmo com todas as suas mazelas, tem avançado na construção da democracia. O país ainda é muito injusto e desigual, mas tem eleições livres em todos os níveis, cujos resultados são respeitados. Os que pensam diferente de nós devem ser vistos como adversários num embate leal e democrático, não como inimigos a quem se deva destruir.