terça-feira, 29 de março de 2011

Casamento exótico

A cerimônia de casamento em que os noivos estavam vestidos como os personagens Schreck e Fiona, realizada em Garibaldi, no interior do Rio Grande do Sul, ainda repercute em todo o país. Não pretendo abordar a questão sob o prisma religioso, já que a Diocese de Caxias do Sul, sob cuja jurisdição está o município de Garibaldi, protestou contra o fato e recriminou o padre que oficiou o casamento. Não professo nenhuma religião e, portanto, passo ao largo de tal enfoque. O que me chama a atenção é o nível de infantilização demonstrado pelo casal ao escolher vestir-se como personagens de um desenho animado. O poder da chamada indústria cultural é, sabidamente, muito grande, mas em se tratando de pessoas em idade adulta, tal atitude beira o patético. Nota-se, também, mais uma vez, a influência do entretenimento de massa americano sobre os brasileiros. Para quem analisa pela questão religiosa, a cerimônia talvez seja considerada desrespeitosa. Para quem olha pelo senso comum, parece mais próxima do rídiculo.

Rudi Armin Petry

O Grêmio perdeu, na tarde de hoje, um dos seus dirigentes históricos, Rudi Armin Petry. Presidente do clube nos anos de 66 e 67, Petry marcou época no futebol gaúcho pelo modo como se dirigia a torcida em suas entrevistas e por ter cunhado a expressão "assuntos de economia interna" para se referir a temas que não deviam transpor os muros do clube. Sua influência foi tão marcante que Fernando Carvalho, considerado o maior presidente da história do Inter, revelou ter se inspirado nele ao usar expressões como "boa tarde a todos, em especial a torcida do Internacional", tal e qual Petry fazia em relação a torcida do Grêmio. Petry teve uma longa existência, de 91 anos. Mesmo depois de sua passagem pela presidência continuou atuando na vida do clube, tendo, inclusive, integrado o departamento de futebol já com a idade de 84 anos. Foi um dos grandes vultos do futebol gaúcho.

Homofobia e racismo

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) é uma figura conhecida no parlamento brasileiro por suas posturas fascistas e antidemocráticas. Defensor ardoroso da ditadura militar, adota, permanentemente, um discurso marcado pelo machismo e arraigado conservadorismo. Dessa vez, no entanto, Bolsonaro extrapolou. Em participação num quadro do programa "CQC", da Rede Bandeirantes de Televisão, levado ao ar na noite de ontem, respondendo a uma pergunta, Bolsonaro afirmou que não corria o risco de ter um filho homossexual por ser um pai muito presente. Numa outra pergunta, feita por Preta Gil, sobre se admitiria que um filho seu casasse com uma negra, Jair Bolsonaro disse que não iria discutir promiscuidade com a cantora. Numa só ocasião, Bolsonaro mostrou-se homófobo e racista e seus destemperos verbais não podem mais ser tolerados. Preta Gil já declarou que pretende processá-lo, no que está muito certa. A Câmara dos Deputados não pode ficar indiferente ao fato e deve encontrar a forma adequada de punir Bolsonaro. Declarações tão odiosas e intolerantes não podem passar em branco. O que não consigo entender, porém, é como alguém que defende idéias tão reacionárias e torpes pode obter sucessivas reeleições. Bolsonaro é a prova de que as forças que levaram o país a passar por 21 anos de uma ditadura cruel, que, em seus porões, torturou e matou quem se lhe opunha, continuam atuantes. Saber que, no caso de Bolsonaro, isso se dá através do voto, é incompreensível.

O fim de uma luta

A morte do ex-vice-presidente José Alencar, na tarde de hoje, é o desfecho inevitável de uma luta inglória contra uma doença implacável. Era apenas uma questão de tempo. Não havia como Alencar vencer em definitivo uma batalha contra o câncer que durou quase quinze anos. Suas recorrentes internações e muitas cirurgias deixavam a todos espantados, pois Alencar seguia lutando, não desistia. Porém, nem toda a vontade de viver do ex-vice-presidente, nem os muitos recursos médicos a que uma pessoa do seu nível tem acesso, foram capazes de mudar o final previsível dessa história. José Alencar se foi, deixando uma trajetória de sucesso como empresário e político, mas, mais do que tudo, uma demonstração poucas vezes vista de tenacidade e de destemor diante de tamanha provação a que foi submetido. Como todos nós, Alencar tinha defeitos e limitações, mas seu final de vida, sua saída de cena, foi dos mais dignos. Lutou pela vida até o limite de suas forças, na busca de uma vitória que sabia ser inatingível. Não jogou a toalha. Permaneceu no ringue. Deixou o exemplo de que não importa o quão adversa seja uma situação, deve-se perseverar na busca da superação.