quinta-feira, 28 de julho de 2011

A revelação de Jobim

O noticiário político brasileiro não cansa de nos surpreender, pois, quando pensamos já ter visto de tudo, eis que surgem situações de deixar qualquer um estupefato. O fato inusitado da vez é a revelação feita pelo ministro da Defesa, Nélson Jobim, de que não votou em sua chefe, a presidente Dilma Roussef, e sim em José Serra, nas eleições de 2010. Jobim disse que, ainda candidata, Dilma já sabia sobre sua preferência. Mesmo assim, depois de eleita, convidou-o para integrar o ministério e não tocou mais no assunto. Em outros textos, já enfoquei algumas das situações absurdas e constrangedoras que a tal busca da governabilidade cria para o governo. Para obter maioria no Congresso, é estabelecida uma aliança com vários partidos, fatiando o poder e distribuindo cargos. Porém, ter como ministro alguém que votou contra seu próprio superior é algo que me soa incompreensível e injustificável. Se Dilma, como afirma Jobim, sabia de sua preferência por Serra, porque o convidou para ser ministro? Seria Jobim tão qualificado para o cargo para que a presidente não abrisse mão de sua indicação? Por outro lado, qual a intenção do ministro da Defesa em fazer essa revelação agora? Não consigo enxergar nenhum proveito na atitude de Jobim. Porém, uma vez tendo sido trazido o fato ao conhecimento público, tenho uma posição clara sobre o assunto em questão. Jobim deveria ser demitido. O candidato no qual o ministro da Defesa votou para presidente, José Serra, é do maior partido de oposição ao governo. Não faz sentido que um seu apoiador integre o ministério de Dilma. Composição entre partidos tem limite. Há coisas que não podem ser relevadas, seja em nome do que for. Há muitas pessoas no país capazes de ocupar o cargo de ministro da Defesa, sem que se precise preenchê-lo com um inimigo na trincheira. A principal característica de um ministro deve ser a lealdade com quem o nomeou. A presidente não pode deixar uma situação como essa passar em branco, como se fosse algo normal. Independentemente de pressões em contrário e ameaças de ruptura que pudessem vir a ocorrer por parte de seu principal aliado, o PMDB, Dilma tem de exonerar Jobim. Não nenhuma outra solução que seja moralmente aceitável.