quinta-feira, 7 de maio de 2015

Na contramão da história

Uma pesquisa realizada com eleitores dos Estados Unidos, sobre a sua posição em relação a candidatos de grupos específicos, revelou que eles preferem votar em gays e lésbicas do que em evangélicos. Numa sociedade tida como puritana, é uma postura surpreendente e admirável. Por outro lado, no Brasil, o personagem Carlos Alberto, da novela "Babilônia", da Rede Globo, vivido pelo ator Marcos Pasquim, terá o seu perfil totalmente alterado em relação à sinopse original. Carlos Alberto seria um homem separado que sufoca sua homossexualidade até o dia em que se apaixona e "sai do armário". Agora, será um viúvo que se sente responsável pela morte de sua mulher num acidente de carro. Uma história bem menos interessante, arranjada para fugir da pressão de grupos conservadores, principalmente evangélicos, que fazem combate cerrado contra a novela porque ela apresentou, já no primeiro capítulo, um "selinho" entre as personagens vividas pelas atrizes Fernanda Montenegro e Natália Timberg. O Brasil vive uma lamentável onda de neoconservadorismo, com boçais como os deputados federais Marco Feliciano e Eduardo Cunha, ambos evangélicos, ganhando espaços nos meios de comunicação para desfiarem seus conceitos medievais de moralidade. A Rede Globo, é claro, preocupa-se com os índices de audiência de "Babilônia" e que eles sejam afetados pela campanha movida contra ela pelos conservadores, mas não deveria se deixar dobrar nessa questão. Ainda que uma novela seja considerada uma obra aberta, ela não deveria ter a sua sinopse original modificada em função de posições moralistas de uma parcela da sociedade. O obscurantismo está ganhando terreno, perigosamente, no país. Mais uma vez, o Brasil se inclina por andar na contramão da história. Enquanto os eleitores americanos se mostram favoráveis a votar em gays e lésbicas, a maior rede de televisão brasileira, e a quarta do mundo, cede às pressões dos homofóbicos.