terça-feira, 9 de junho de 2020

Esmola

O ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou a extensão do auxílio emergencial por mais dois meses, mas pagando 300 reais, a metade do valor das três primeiras parcelas. Esse fato é acintoso, pois, ao agir assim, o governo federal está a conceder uma esmola, e não um auxílio. Aliás, uma série de irregularidades cerca o benefício. As três primeiras parcelas, de 600 reais, já deveriam ter sido integralmente pagas. Algumas pessoas, no entanto, não receberam sequer a primeira. Por outro lado, pessoas que não tem direito ao benefício foram agraciadas, incluindo militares e integrantes dos segmentos mais privilegiados financeiramente da sociedade. Cabe lembrar que, inicialmente, o governo pretendia pagar apenas três parcelas de 200 reais, valor que foi triplicado pelo Congresso. Tanto o governo quanto economistas que se consideram realistas fazem questão de destacar que esse auxílio representa um gasto alto para os cofres públicos, razão pela qual são contrários a um prolongamento "excessivo" do mesmo ou a sua transformação em medida permanente. O que os neoliberais empedernidos do governo e os economistas "esclarecidos" se negam a perceber é que a pandemia de coronavírus é um fato de extrema excepcionalidade, e, portanto, exige soluções igualmente fora dos parâmetros convencionais. O capitalismo pré-pandemia não terá como retornar. A pandemia tornou isso impossível, ao mostrar que, diante de cenários tão desafiadores quanto o dessa doença, o Estado torna-se, inevitavelmente, o protagonista. O Estado mínimo, sonhado por Guedes e seus asseclas, era, antes, uma previsão cruel. Depois do coronavírus, é apenas uma ficção de má qualidade.