segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Lucidez

O coordenador digital da campanha de Aécio Neves para a eleição presidencial, Xico Graziano, ex-deputado federal pelo PSDB, foi responsável por um raro momento de lucidez no cenário político brasileiro. Graziano foi hostilizado nas redes sociais por ter repudiado as passeatas que pediam o impeachment da presidente reeleita Dilma Rousseff e a volta dos militares. Ele foi chamado, entre outros termos, de "linha auxiliar do PT" e "esquerdopata". Sem se intimidar, Graziano postou um texto em que reafirmou sua posição e fez considerações precisas sobre o quadro político brasileiro. Lembrou que a direita, no Brasil, está sem um partido que a represente, que defenda suas ideias. Assim, foi procurar abrigo no PSDB. Porém, como bem lembra Graziano, o partido traz em seu nome a expressão "social democracia" e teve sua origem no antigo MDB, uma frente que lutou contra o regime militar. Portanto, argumenta Graziano, sua inspiração é de centro-esquerda. Ele conclui seu arrazoado de forma certeira, ao expressar que não é ele que está no lugar errado, e que os radicais de direita é que devem deixar o PSDB. A polarização política entre PT e PSDB acabou por gerar esse efeito perverso. Como os partidos mais à direita do espectro político,  PP e Dem, perderam expressão, os antipetistas pousaram no PSDB na busca de alcançarem o poder. No entanto, o PSDB, embora seja um partido de feição burguesa, marcadamente de classe média, não é de inspiração direitista. Por conveniência eleitoral, os partidos aceitam toda a espécie de adesões, o que contribui para descaracterizá-los. A partir do episódio envolvendo Graziano, talvez a cena política brasileira fique menos confusa. O PSDB tem todo o direito de lutar para chegar ao poder, é para isso que existem os partidos. No entanto, deveria fazê-lo sem dar guarida aos inimigos da democracia, e sendo fiel aos fundamentos que levaram à sua criação.