sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Torturador impune

O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra faleceu, ontem, aos 83 anos, vítima de câncer. Ustra foi mais um torturador da ditadura militar que morreu impune. Foi chefe do DOI-CODI do II Exército, em São Paulo, de 29 de setembro de 1970 a 23 de janeiro de 1974. O relatório da Comissão Nacional da Verdade registrou que, nesse período, ocorreram pelos menos 45 mortes e desaparecimentos forçados. Em 2012, Ustra foi condenado a pagar indenização por danos morais à mulher e à irmã do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, preso em 15 de julho de 1971, em Santos (SP), onde fora visitar a família, e assassinado quatro dias depois. A versão oficial dos agentes do DOPS foi de que Merlino se suicidou quando era transportado para o Rio Grande do Sul. Mesmo sendo responsável por esse e outros crimes, Ustra jamais foi preso, beneficiado pela absurda impunidade que, até hoje, é concedida aos agentes da ditadura miltar. Muitas pessoas, grande parte delas jovens, tiveram suas vidas ceifadas por figuras como Ustra. Enquanto Ustra morreu em idade avançada, sempre junto dos seus, os pais desses jovens tiveram-nos arrancados de seu convívio, tendo de enfrentar a dolorosa experiência de verem seus filhos morrerem antes deles, o que contraria a lógica da existência. O Brasil deveria seguir o exemplo de seus vizinhos, Argentina e Uruguai, que determinaram punições rigorosas aos agentes das ditaduras daqueles países. O ex-ditador argentino Jorge Videla, por exemplo, morreu na prisão. Ao contrário do que dizem os defensores da impunidade, o Brasil não tem de esquecer os traumas da ditadura para seguir em frente. Eles precisam ser reparados, ou, aí assim, permanecerão como uma sombra sobre o país. Para isso, é fundamental punir exemplarmente os participantes da ditadura que ainda estão vivos. A impunidade dos artífices da ditadura é um escárnio para com as famílias das vítimas de sua ação, e não pode prosseguir.