quinta-feira, 1 de março de 2012

O ministro da Pesca

Por mais que estejamos acostumados aos desatinos na atividade política, às suas estranhas composições e conchavos, feitos em nome da "governabilidade", certos fatos ainda causam espanto. A presidente Dilma Roussef nomeou o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) como o novo ministro da Pesca. A pasta em questão, por si só, é uma dessas excentricidades que explicam o porquê do governo brasileiro possuir 38 ministérios. A prova da inutilidade do ministério da Pesca é o perfil dos seus titulares, desde que foi criado, que não tem qualquer afinidade com a atividade pesqueira. Na verdade, esse ministério, como tantos outros, serve apenas para barganha de cargos com os partidos da chamada "base aliada". A nomeação de Marcelo Crivella, segundo se especula, é parte de um acordo entre PT e PRB visando a eleição para prefeito de São Paulo. Desconfio, no entanto, que possa ser mais do que isso. O PRB é um partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, da qual Marcelo Crivella, aliás, é integrante. Sua nomeação como ministro pode ser um meio de conter a insatisfação das bancadas evangélicas com a recente indicação de Eleonora Menicucci para o cargo de Secretária de Políticas para as Mulheres. A investidura de Eleonora causou revolta entre os evangélicos já que a secretária é favorável a legalização do aborto. Particularmente, não sou favorável à legalização do aborto. Minhas razões para assim pensar, contudo, nada a tem a ver com dogmas ou preceitos religiosos. Essa é uma questão que tem de ser decidida, maduramente, pela sociedade brasileira. O governo não pode, em nome de interesses políticos e eleitoreiros, ser refém da pressão de grupos religiosos, sejam eles quais forem. O Brasil é um país laico, e os interesses do povo brasileiro não podem ser submetidos a visão estreita e sectária de qualquer vertente religiosa. Até para o pragmatismo há limites, e Dilma Roussef, ao que parece, os está rompendo.