segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Neoliberalismo patológico

Ontem, ao ler uma entrevista com César Grafietti, consultor do Itaú BBB, convenci-me de que o modo neoliberal de pensar é, antes de tudo, uma grave patologia psiquiátrica. A entrevista tratava do futebol pós-Copa do Mundo, no Brasil e em relação a dupla Gre-Nal, pela ótica da economia. Fiel à obsessão dos que integram a sua corrente de pensamento pela ideia de que não se pode gastar mais do que se arrecada, Grafietti sustenta que é fundamental que os clubes entendam que sua existência depende de forte "ajuste de custos". A primeira providência a se tomar, defende ele, é reduzir salários. Buscar títulos a qualquer custo costuma terminar mal, afirma o consultor. Grafietti diz que é preciso mudar a "mentalidade da estrutura futebol" e que isto leva tempo. Avançando em suas considerações, conceitua que reduzir custos significa limitar capacidade de investimentos e competitividade e isto certamente  nos levará a aceitar que o Brasil não tem 12 clubes grandes e que disputam títulos relevantes. Estes seriam apenas quatro ou cinco, com mais alguns outros que, eventualmente, lutariam por conquistas. Com  base nessa linha de raciocínio, Grafietti projeta que, se tudo "funcionar bem", se os clubes se organizarem, se os jogadores entenderem que os altos salários não se sustentam e se os torcedores aceitarem que nem todos os clubes podem lutar por títulos, o futebol brasileiro, em 2018, estará melhor. Cabe perguntar, melhor para quem? Na verdade, as ideias de Grafietti em relação ao futebol refletem a visão neoliberal sobre a economia como um todo. Nelas estão presentes conceitos como o de que nem todos podem ter acesso ao que há de melhor e que os excluídos desse grupo privilegiado devem conformar-se com essa condição. A proposição de cortes de custos e salários também é típica do neoliberalismo, que adora afirmar que não existe almoço grátis para poder tungar o bolso alheio. Depois de ler as sandices de Grafietti, só possíveis de ser sustentadas por quem nada entende das especifidades do mundo do futebol e da paixão que lhe é intrínseca, cheguei a conclusão de que o neoliberalismo não é apenas uma demonstração de falta de caráter, mas sim uma condição patológica.