terça-feira, 18 de junho de 2013

Contramão

Só os muito distraídos podem ter ficado surpresos com os protestos que tomaram conta do país. Há muito tempo que se percebia que a classe política estava pagando para ver até onde iria a proverbial paciência do brasileiro. A ideia de que o povo brasileiro permanece passivo diante de qualquer patifaria fez com que a desfaçatez e a corrupção no meio político se tornassem a regra nos últimos tempos. A conta está chegando agora. O total distanciamento entre as expectativas da população e as ações dos políticos chegou ao que se costuma dizer que é a gota d'água que transborda o copo. Os círculos do poder se isolaram da realidade, vivendo encastelados no seu mundo particular, feito de mordomias, favorecimentos, enriquecimento ilícito, tráfico de influências e malfeitos de toda a ordem. Com uma classe política operando na contramão da vontade popular, a resposta das ruas teria de vir mais cedo ou mais tarde. Ao contrário do que possam pensar muitos, os tempos que virão não tendem a ser perigosos, mas, sim, excitantes. Afinal, é pouco provável que os protestos que se espalham pelo país caiam no vazio. Eles forçarão o governo e os políticos a tomarem posição. Não será um processo sem traumas, mas o país sairá melhor dele. O problema é que, talvez, a ficha custe a cair para a classe política. Uma demonstração disso é que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, presidida pelo pastor Marco Feliciano (PSC-SP), aprovou o projeto da "cura gay", um rematado absurdo. Ao contrário da "Marcha com Deus e a família pela liberdade", que foi às ruas em apoio ao espúrio golpe militar de 1964, os manifestantes de hoje estão ligados a causas libertárias, não ao obscurantismo. Os que apostam em fazer prevalecer posições conservadoras, tanto no campo moral quanto no político, vão quebrar a cara. Está surgindo um novo Brasil, rompendo com velhos ranços, comandado por uma juventude que, usando a força das redes sociais, alcançou uma capacidade de mobilização de que nunca dispôs antes, e que não tem como ser contida. Somos privilegiados por estarmos vendo a História se desenrolar diante de nossos olhos. O Brasil, depois dos protestos, nunca mais será o mesmo, e isso é muito bom.