terça-feira, 28 de junho de 2011

Documentos sumidos

A política, no Brasil, é, decididamente, o reino da desfaçatez. Essa é a conclusão a que se pode chegar depois da declaração do ministro da Defesa, Nélson Jobim, de que os documentos referentes à ditadura miltar (1964-1985) desapareceram. Jobim fez tal revelação ao argumentar que a proposta de acabar com o sigilo eterno de documentos secretos brasileiros não deverá criar polêmica em relação ao regime militar. "Não há documentos. Nós já levantamos e não tem. Os documentos já desapareceram, foram consumidos á época, então não há problema algum em relação a essa questão", disse Jobim. Convenhamos, é o tipo de história que não dá para aceitar como verdadeira. Alguém até poderia imaginar que os militares trataram de sumir com os documentos para não deixarem rastros de seus atos e evitar um julgamento futuro. Porém, é óbvio que está se sonegando ao povo brasileiro o acerto de contas com o pior período político da história do país. Ao afirmar que os documentos desapareceram, o governo tenta silenciar de vez as vozes que clamam para que se passe a limpo o período da ditadura fardada. Outros países que enfrentaram ditaduras militares, como Uruguai e Argentina, estão, até hoje, acertando suas contas com esse passado nebuloso. O Brasil, mesmo sendo governado por uma ex-ativista de esquerda que lutou contra a opressão do regime militar, insiste em não encarar a situação de frente e nega-se a revelar os arquivos daquela época. Não há quem, em sã consciência, acredite na história da carochinha de Jobim. As conveniências das forças de direita, que argumentam que a anistia concedida em 1979 foi para os dois lados e que é preciso esquecer o passado para seguir em frente, mais uma vez se impuseram sobre o interesse maior do país e de seus cidadãos. Como bem demonstram Uruguai e Argentina, antes de seguir em frente, é preciso acertar as contas com o passado, até para evitar que a iniquidade de uma ditadura possa vir a se repetir. A afirmação de Jobim é ridícula pela sua óbvia falta de veracidade. A atitude do governo, ao sustentar tal blefe, é vergonhosa, pelo aleijume moral que impõe ao país, que vê estabelecida a permanente impunidade dos monstros da ditadura.