segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Oportunismo

Numa demonstração do mais evidente oportunismo, a revista "Veja", na sua edição dessa semana, entrevista, nas páginas amarelas, o cantor e compositor Lobão. Embora esteja longe de ser uma figura admirada pela revista, Lobão recebeu o privilégio de aparecer na seção mais nobre de "Veja" em função de seu discurso antipetista, recentemente adotado. Não é segredo para ninguém que basta alguém se mostrar adversário do PT para, imediatamente, ganhar a simpatia de "Veja". Lobão lançou, há pouco tempo, um livro intitulado "Manifesto do Nada na Terra do Nunca". Nele, critica o PT e os intelectuais de esquerda, os quais define como "espécie que reina soberana na nossa terra, patrulhando incautos e dando carteirada nos descontentes, filha de um marxismo guarani-caiová de butique e encarnação vívida da ofensa, da obtusidade e do recalque". Ao longo de sua entrevista, Lobão faz vários ataques ao PT e às esquerdas, o que deve soar como música aos ouvidos de quem publica e edita a revista. Entre outras coisas, Lobão comparou os protestos do mês de junho em várias cidades do Brasil com desfile de escola de samba. Ele disse que é a favor de manifestações qualquer que seja a causa, desde que haja uma definida, o que, entende, não aconteceu nos protestos de junho, os quais, na sua opinião, serviram para fortalecer as esquerdas. Anteriormente, Lobão fez campanha para o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, mas rompeu com o PT e diz que, hoje, não vota em ninguém e propõe uma campanha para o voto deixar de ser obrigatório, pois acha que isso não é compatível com a democracia. No que tange à atividade artística, seu meio de atuação, Lobão também dispara a sua metralhadora giratória, tecendo críticas às gravadoras e aos "jabás" que pagam para as rádios, a Caetano Veloso e Gilberto Gil, cujos últimos trabalhos relevantes considera terem sido feitos há mais de 30 anos, e a Chico Buarque de Holanda, de quem diz nunca ter gostado e de ser daqueles que "tem inveja da pobreza". Extremamente crítico em relação aos outros, Lobão não tem o mesmo rigor em se tratando da sua própria pessoa. "Faço rock'n roll da melhor qualidade e sei que tenho o melhor show do Brasil", afirma. Na verdade, Lobão era um astro de tempos idos entregue ao ostracismo até encontrar uma publicação que, por mero oportunismo, lhe proporcionou os holofotes tão desejados. Incautos, Lobão, serão aqueles que se deixarem levar por essa exótica parceria.