segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Os mensalões

Na semana passada, a juíza Melissa Pinheiro Costa Lage determinou a condenação do ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, a 20 anos de prisão em regime fechado por seu envolvimento em um esquema de desvio de dinheiro público para financiar sua campanha á reeleição em 1998, mal sucedida, por sinal. O esquema ficou conhecido como "mensalão tucano", dado que Azeredo é filiado ao PSDB, sendo, também, ex-presidente nacional do partido, que tem essa ave como símbolo. Em sua "Carta ao Leitor" da edição dessa semana, a revista "Veja" tenta justificar porque dedicou apenas uma página para abordar o assunto, depois de ter feito uma cobertura massiva do chamado "mensalão do PT". Conforme a revista, é uma questão de "senso de proporção". Para "Veja", o único dado relevante que há em comum entre os dois "mensalões" é a presença, no núcleo da engrenagem de ambos, do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Porém, em termos de volume de recursos desviados, alega a revista, a diferença é enorme. Ele seria de 170 milhões de reais no "mensalão petista", e de 3,5 milhões no tucano. Afora isso, "Veja" destaca que 25 dos 38 réus do "mensalão petista" foram condenados de forma definitiva, enquanto Azeredo poderá recorrer da sentença em liberdade. Desculpa esfarrapada. "Se "Veja" dá tratamento desigual aos dois fatos, é por uma questão meramente ideológica, pois a revista faz franca oposição ao PT e simpatiza com o PSDB. O argumento do volume de recursos desviados é patético. A ética não se mensura em cifras. O "mensalão tucano" não é menos grave que o petista por ter movimentado quantias menores de dinheiro, apenas beneficiou-se de uma incrível morosidade da Justiça para julgá-lo. Uma morosidade que acabará por beneficiar Azeredo, já que ele completará 70 anos em 2018, e dessa forma os prazos para a prescrição dos crimes pelos quais foi condenado se reduzirão pela metade. Por mais que "Veja" queira sustentar o contrário, tanto a revista como a Justiça usaram pesos diferentes para tratar casos criminalmente análogos. Essa é a verdade que nenhum exercício retórico poderá encobrir.