terça-feira, 22 de abril de 2014

A escalada da violência

Basta que acompanhemos os noticiários para que se perceba que estamos envoltos por uma escalada de violência. A criminalidade e as atrocidades sempre estiveram presentes na história humana, mas talvez nunca com a frequência que hoje se verifica. Mata-se pelos motivações mais fúteis. Há uma sensação coletiva de insegurança. O que estaria por trás de tal quadro? Difícil precisar. O Brasil não está numa crise econômica, o índice de desemprego da população é baixo, o país vive um período contínuo de democracia que já dura 29 anos, a popularidade do governo apresenta índices satisfatórios. As razões da violência crescente, portanto, não estão em fatores rigorosamente objetivos. O vazio existencial de nossos dias, possivelmente, é uma das causas da brutalidade que nos cerca. O consumismo desenfreado dos tempos atuais, e uma sociedade que privilegia a forma em detrimento do conteúdo, vão, progressivamente, gerando um processo de desumanização. Cada vez mais, somos avaliados pelo que temos, não pelo que somos. Assim, a violência se dissemina na busca de alguns pelo enriquecimento fácil, por meio de assaltos e sequestros, por exemplo. A falta de sentido para a vida, por outro lado, leva ao consumo de drogas, outro fator alimentador da prática de atos criminosos. A repressão ao crime, é óbvio, se faz necessária, e de maneira enérgica, mas é preciso pensar a questão de violência de forma mais ampla. Ela é efeito e não causa. Resulta de uma sociedade assentada em bases frágeis, a procura de um rumo. Uma mudança nesse quadro demanda tempo, mas é possível. Uma educação de melhor qualidade e um acesso mais amplo de todas as pessoas à cultura, por certo, proporcionariam resultados a médio e longo prazos. Porém, algo precisa ser feito a mais do que simplesmente erguermos muros e grades para nos proteger. Precisamos recuperar as ruas como espaço de lazer e convivência, não nos trancafiarmos em casa. Mais que uma questão social, temos pela frente um desafio civilizatório, de mudança de paradigma. Temos de abandonar o papel de consumidores compulsivos e redescobrir nossa essência. A vida, a de cada um e a dos outros, é de um valor imensurável, não pode ser suprimida para a satisfação de interesses materiais.