quinta-feira, 11 de abril de 2013

Aliança escusa

O crescimento das chamadas igrejas evangélicas ou neopentecostais, no Brasil, é evidente, nos últimos anos. Antes com um número pouco expressivo de adeptos, expandiram a quantidade de seus seguidores. Aproveitando-se da crise de identidade da ainda majoritária Igreja Católica, foram ampliando sua presença. Para isso, utilizaram-se, fortemente, da mídia. Afora emissoras próprias de rádio e tv, compram espaços nas principais redes, para fazer seu proselitismo. A intenção de seus líderes, nada inocente e inaceitável num país laico, é tomar parte nas decisões de cunho político, impondo ao conjunto da sociedade sua visão sectária, preconceituosa, reducionista e obtusa a respeito de temas comportamentais. A escalada dos evangélicos tornou-se ainda mais saliente com a escolha do deputado federal, e pastor da Assembleia de Deus, Marco Feliciano (PSC-SP) para presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Os setores mais conscientes da sociedade, imediatamente, se manifestaram contra sua investidura no cargo. O deputado e pastor, a cada declaração, demonstra a sua total inabilitação para a função, com um discurso obscurantista. Estranhamente, num momento em que milhões de vozes se levantam contra Feliciano, a maior rede de comunicação do país, a Globo, noticiou, hoje, com destaque, em seus espaços na tv e internet, a reeleição do pastor José Wellington para presidente nacional da Assembleia de Deus. Nunca antes, a eleição de alguém para semelhante posto foi objeto de cobertura jornalística. O fato evidencia uma aliança de objetivos pouco nobres, e perniciosa para os interesses da sociedade, entre a Globo e os evangélicos. Dinheiro, sabe-se, não é problema para tais igrejas, que recolhem grandes quantias, a título de dízimo, dadas pelos incautos que aliciam. Esse mesmo dinheiro está levando a Globo a comprometer a sua já tão abalada credibilidade com a inclusão em seu conteúdo jornalístico de uma notícia sem relevância para o público. Uma situação que só não é percebida pelos distraídos ou muito inocentes. Fatos como esse devem servir de reflexão para aqueles que reagem a qualquer tentativa de disciplinar a atuação dos meios de comunicação como uma "ameaça a liberdade de expressão". O que aconteceu, hoje, não tenho dúvida, caracteriza-se como venda de espaço editorial, uma atitude eticamente inaceitável e de consequências perversas para a opinião pública. O Brasil é um país laico, e que vem tendo apreciáveis avanços no campo social. O arcaísmo das posições evangélicas em nada contribuem com essa saudável evolução. Uma aliança entre essas igrejas e a mais poderosa rede de comunicação do país é um fato escandaloso, que não pode passar em branco. Exige, afora o natural repúdio das mentes mais esclarecidas, uma tomada de posição do governo. Liberdade de expressão é uma coisa, traficar espaço editorial é bem outra.