terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Injustificável

Passados cinco dias desde a morte do secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, de 56 anos, seguem sendo dadas explicações para a recusa de atendimento por parte de dois hospitais de Brasília. Duvanier, que sofreu um enfarte, só conseguiu atendimento em um terceiro hospital, quando não foi mais possível salvar sua vida. O motivo da recusa dos dois primeiros hospitais, ambos particulares, foi de que não eram credenciados pelo plano de saúde de Duvanier, o Geap. Como Duvanier não tivesse dinheiro nem cheques para depositar uma caução, o atendimento lhe foi negado. Dessa forma, a propria Agência Nacional de Saúde concluiu que não houve erro do plano de saúde, nem negativa de cobertura. Duvanier não foi atendido pelos hospitais Santa Lúcia e Santa Luzia. Levado para o Hospital Planalto, foi, enfim, atendido, mas não resistiu e faleceu. A presidente Dilma Roussef determinou ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, uma rigorosa apuração do fato. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil e pelo Procon do Distrito Federal. Ora, convenhamos, o fato ocorrido com Duvanier é um descalabro, e demonstra que o caos no sistema de saúde brasileiro não poupa nem mesmo pessoas que ocupam cargos importantes na administração federal. Não é possível que alguém numa situação de emergência, como é o caso de um enfarte, onde cada segundo desperdiçado no atendimento pode fazer a diferença entre a vida e a morte, deixe de ser socorrido por questões financeiras e burocráticas. Acima de tudo, médicos e hospitais tem o dever de tudo fazer para salvar a vida de quem lhes procura buscando atendimento. A argumentação da Agência Nacional de Saúde é inaceitável. Não me interessa saber se o plano de saúde de Duvanier era ou não conveniado com os dois hospitais que lhe negaram socorro. Também é irrelevante, para mim, o fato de que Duvanier não tinha dinheiro ou cheques para uma caução. A tarefa precípua de hospitais e médicos é salvar vidas. Ao negarem-se a fazê-lo, cometem um crime, e devem pagar por ele. Não se pode chegar a um tal nível de mercantilização da sociedade, em que até a vida de uma pessoa deixe de ser salva por falta de pagamento dos serviços clínicos. Tomara que Dilma Roussef não esmoreça na busca do esclarecimento do caso. Assim, a morter de Duvanier poderá servir, pelo menos, para que o sistema de saúde brasileiro seja revisto e se torne, senão mais eficiente, pois isso demanda tempo e investimentos, no mínimo, mais humano.