sexta-feira, 8 de junho de 2012

Homenagem nauseante

No próximo domingo, num teatro no centro de Santiago, será prestada uma homenagem à memória do ditador chileno Augusto Pinochet. O ato é promovido por um grupo denominado 11 de Setembro, exatamente a data em que o presidente do Chile, legitimamente eleito, Salvador Allende, foi derrubado por um golpe comandado por Pinochet. Apesar dos recursos judiciais de familiares das vítimas da ditadura, a Justiça do Chile autorizou a  realização da homenagem, alegando o fato de que ela será feita em local privado. Trata-se de um acinte, um desrespeito total aos que defendem a democracia e os direitos humanos. Pinochet foi um ditador execrável e sanguinário. Seu regime arbitrário, que durou 17 anos, redundou em 3 mil vítimas. Pinochet, contudo, jamais pagou por seus crimes. Num momento em que a América do Sul abraça, cada vez mais, o ideário de esquerda, como comprovam os governos de Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Venezuela e Equador, e em que, na França, os socialistas retomaram o poder, o Chile insiste em andar na contramão da história. Seu atual presidente é um magnata direitista, e os trabalhadores tem de prover inteiramente a sua aposentadoria pelo sistema de previdência privada, pois as empresas são liberadas de qualquer ônus nesse sentido. Não por acaso, o Chile recebe fartos elogios da imprensa conservadora brasileira, grande admiradora de governos onde o Estado se ausenta das suas tarefas mais básicas, aderindo à sociedade de mercado e dando as costas aos cidadãos. A homenagem a Pinochet não é só uma agressão a todos os chilenos que foram vítimas da ditadura e aos seus familiares. Trata-se de um insulto a todo o cidadão, de qualquer parte do mundo, já que mostra desprezo por valores básicos da humanidade, como a liberdade e a democracia. Com a homenagem a um genocida e ao seu infecto regime, o domingo será um dia de luto, não só no Chile, mas em todo o lugar em que ainda se preze a dignidade humana.