sexta-feira, 27 de julho de 2012

Repressão

Uma batalha vem sendo travada cada vez com mais intensidade em Porto Alegre, a que envolve os defensores do sossego e do "direito ao descanso" contra os que desejam se divertir em bares e casas noturnas. Sob o argumento de que os frequentadores de tais estabelecimentos promovem "algazarras" os defensores do descanso buscam fechá-los ou, no mínimo, limitar o seu horário de funcionamento. Numa cidade que não dispõe de atrativos naturais e turísticos, isso é um desatino. O direito à diversão é tão legítimo quanto o de repousar. Associar a saudável e natural necessidade de divertimento, principalmente dos mais jovens, com desordens e "perturbações da ordem", é algo de um ranço repressor nauseante. O último episódio do gênero envolveu o fechamento de um bar na Avenida Independência, que funciona há 37 anos, está com toda a documentação em dia, e possui autorização para operar durante 24 horas. Entre as alegações dos moradores da região estão o de que há aglomeração de pessoas na área externa ao bar, ou seja, na via pública e a suspeita de que o estabelecimento vende bebidas para quem está do lado de fora. Sejam quais forem as razões aventadas, elas apenas dão sequência a uma queda de braço que, nos últimos tempos, está sendo vencida pelos que, em nome da defesa da tranquilidade, pretendem cercear aos outros o  acesso ao lazer e ao divertimento. Como se costuma dizer, o que se leva dessa vida é o que se come, o que se bebe e o que se brinca. Eventuais excessos podem, e devem, ser coibidos, mas proibir pessoas de se divertir é injustificável. Não é à toa que o Rio Grande do Sul ostenta alguns índices preocupantes, entre eles o de ser o campeão nacional de suicídios. A vida não pode prescindir da extravasão dos sentimentos. Reunir-se com amigos para conversar, comer, beber e dançar é extremamente saudável. Os que tentam impedir isso usam a defesa do direito ao descanso para encobrir suas frustrações. Ressentidos, não suportam que os outros usufruam de prazeres que, por sua postura diante da vida, nunca conseguiram desfrutar.