sexta-feira, 10 de maio de 2013

A cara da ditadura

A Comissão da Verdade colheu, hoje, o depoimento do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra. Ele obteve na Justiça autorização para ficar calado durante o depoimento, para o qual foi convocado pela comissão, mas resolveu se manifestar. Pediu para fazer uma declaração inicial, e depois respondeu a algumas perguntas. Foi melhor assim. Ao falar, Ustra permitiu que o país visse a cara da ditadura. O coronel, de 29/09/1970 a 23/01/1974 foi chefe do Destacamento de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), do II Exército, orgão de repressão política durante o regime militar. Ustra, como costumam fazer outros artífices do golpe militar, afirmou que a presidente Dilma Rousseff participou de "organizações terroristas" com intenção de implantar o comunismo no Brasil. Declarou, ainda, que se os militares não tivessem lutado, o Brasil estaria sob uma "ditadura do proletariado". Os melhores momentos do depoimento de Ustra, no entanto, ocorreram depois da intervenção do conselheiro Claudio Fonteles. Primeiramente, Fonteles apresentou documentos que apontam 50 mortes no Doi-Codi durante o período em que o orgão foi chefiado por Ustra. O coronel disse que não houve mortes na sede do Doi-Codi, mas "em combate". Já havia declarado, um pouco antes, que agiu com consciência, com tranquilidade, não ocultou cadáver, nem cometeu assassinatos, sempre agiu dentro "da lei e da ordem". Fonteles também perguntou se Ustra aceitaria uma acareação com o médico e vereador de São Paulo, Gilberto Natalini (PV), que foi torturado nos porões do Doi-Codi. Ustra, exaltado, disse que não faria acareação com um  terrorista. Natalini reagiu no mesmo tom, dizendo ser um homem de bem e que Ustra é que era terrorista. Estabeleceu-se, então, um bate-boca que levou ao encerramento da sessão. Natalini afirmou, depois, que foi agredido pelo próprio Ustra nas dependências do Doi-Codi. O depoimento do ex-sargento Marival Chaves, foi, igualmente, esclarecedor. Chaves declarou que Ustra, capitão à época, era "o senhor da vida e da morte", colocando por terra o discurso do coronel reformado. O que  é doloroso é constatar que um criminoso tão desprezível quanto Ustra continue livre e impune, enquanto os familiares de suas vítimas sofrem a dor da ausência. Não basta esclarecer os crimes hediondos da ditadura, é preciso punir seus autores.