sexta-feira, 3 de maio de 2013

Lucidez

Poucas coisas são mais difíceis do que manter a lucidez diante de um crime bárbaro. A tendência é que, quando se toma conhecimento de um crime covarde e brutal, a pessoa se veja assolada por sentimentos de punição extremada a quem os cometeu, propondo, inclusive, a pena de morte. No Brasil, dado o crescimento acelerado da violência, a proposição do momento é a da redução da maioridade penal. Há uma grande campanha nesse sentido, e quem se opõe a ela é "brindado" com toda sorte de xingamentos. Pois, se quem não está diretamente envolvido com um fato criminoso revela tamanha revolta, o que se poderia esperar de um pai que teve sua filha estupidamente assassinada por ter apenas 30 reais na conta bancária? Sim, estou me referindo ao bárbaro assassinato da dentista Cinthia Magaly Moutinho de Souza, ocorrido em São Bernardo do Campo (SP), na semana passada. Entre os seus algozes, estava um menor de  idade. Ainda assim, o pai de Cinthya, Viriato Gomes de Souza, diz não estar convencido de que a redução da maioridade penal possa ajudar a resolver o problema da criminalidade no Brasil. Viriato acha que, mais importante que isso, seria aumentar a taxa de resolutividade dos crimes. Eis aí uma rara e comovente demonstração de lucidez. Mesmo abatido pela dor terrível de um pai que tem sua filha assassinada por motivo vil, Viriato não abdica da racionalidade, e não se deixa engolfar pela onda histérica que tomou conta do país em defesa da redução da maioridade penal. Antes de se pensar em tal medida, seria muito mais eficiente, como bem disse Viriato, ter um maior número de crimes solucionados, possibilitando a devida punição de seus autores. No Brasil, o índice de resolução de crimes é baixíssimo, o que colabora com a impunidade. Ao manter o equilíbrio na análise da questão, mesmo tendo sido atingido diretamente por um ato criminoso, Viriato mostra que é possível olhá-la com menos emocionalismo e açodamento.