sábado, 22 de setembro de 2012

Somos nós que fazemos o país

Em sua coluna no jornal Zero Hora, na edição de ontem, o jornalista David Coimbra escreveu uma crônica que causou grande impacto, ao afirmar que o Brasil é uma porcaria porque o povo brasileiro é uma porcaria. Não vou me deter em fazer uma análise do texto do competente jornalista. Prefiro destacar um aspecto por ele enfocado, quando diz que muitos culpam "as elites" pelos males que acometem o país, como se elas tivessem a capacidade de, se o desejassem, colocá-lo nos eixos. Coimbra entende que todos os brasileiros são responsáveis pelo descalabro em que o país se encontra, e nisso ele está absolutamente certo. Uma das coisas que mais me irrita é a postura, bastante comum entre os brasileiros médios, de fazer uma separação sobre o que seria a sua conduta e a dos "poderosos". Eles propagam a ideia de que são pessoas honestas, trabalhadoras, dignas e esforçadas, e referem-se às mazelas do país como se fosse algo que não lhes diz respeito, por ser da inteira responsabilidade de políticos inescrupulosos. Agem como se tais políticos fossem seres alienígenas, e não pessoas que foram criadas na mesma sociedade em que estão presentes esses "respeitáveis" cidadãos. Enchem a boca para maldizer o país em que vivem, lamentar a escalada de corrupção e a "derrocada dos costumes", sempre falando como se fossem meros observadores, e não agentes dessa mesma realidade. Na verdade, trata-se de uma visão autoindulgente e carregada de omissão. Não há um Brasil "nosso" e outro "deles", significando uma separação entre os honestos e trabalhadores e os corruptos e aproveitadores. Ao contrário do que sustentam alguns, o mundo político brasileiro reflete fielmente o que somos como povo. A diferença é que o faz de forma superlativizada. O cidadão comum brasileiro não é mais honesto do que aqueles que o governam. No seu dia a dia, também ele pratica transgressões à ética, mostra-se egoísta e individualista. Se não comete malfeitos de maior monta, é por falta de oportunidade, não por virtude. O Brasil apresenta várias facetas que nos constrangem, mas elas não são responsabilidade de um pequeno grupo. Somos nós todos, cidadãos brasileiros, que fazemos o  Brasil. Assumamos a nossa culpa, sem transferi-la para ninguém. O caminho da correção de rumos no país começa por aí.