quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Prisão tardia

A prisão do deputado federal cassado Eduardo Cunha  (PMDB/RJ), ontem efetuada, é mais uma evidência do descalabro jurídico que se instalou no Brasil. Os motivos para prender Cunha são vários, e já existiam, comprovadamente, desde 2015. Portanto, é uma prisão tardia. Porque Cunha permaneceu solto por tanto tempo se os motivos para colocá-lo no cárcere, e as provas correspondentes, já existiam anteriormente? A resposta é óbvia. Cunha ficou solto para levar adiante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Os golpistas precisavam de Cunha, como presidente da Câmara dos Deputados, para fazer o serviço sujo. Cumprido esse papel, a prisão de Cunha serve, agora, para que o juiz Sérgio Moro, que a ordenou, demonstre que a Operação Lava-Jato não é seletiva, que ela pune igualmente todos os corruptos, independentemente de sua ideologia ou filiação partidária. Porém, só os muito ingênuos, ou irrecuperavelmente estúpidos, podem se deixar enganar por essa encenação. Prender Cunha também seria um meio, por idênticas razões, de justificar que se fizesse o mesmo procedimento com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Ao contrário do que sustenta a imprensa conservadora, que tenta lhe dar a condição de herói, Moro é um mau juiz, que não age de acordo com o interesse público, mas a serviço de um grupo político que, inconformado com as sucessivas derrotas nas urnas, perpetrou um golpe de Estado, depondo, sob alegações inconsistentes, uma presidente legitimamente eleita. A prisão de Cunha era algo que se impunha, e não poderia ter demorado tanto tempo para ocorrer. Se estivéssemos num país em que a Justiça agisse de acordo com o que dela se espera, o próprio Sérgio Moro, por seus atos abusivos é sectários, também deveria ser preso.