domingo, 1 de janeiro de 2012

A careta

Um fato, ocorrido já nos últimos dias de 2011, mostrou-se emblemático em relação ao país em que vivemos. A careta de Daniel Barbalho, de 9 anos, filho do senador Jáder Barbalho (PMDB-PA), que tomava posse naquele momento, com autorização judicial, representa a consciência, mesmo por alguém de tão pouca idade, de que há dois Brasis convivendo paralelamente. Um deles é o Brasil dos que dão duro, dos que levantam cedo, estudam e trabalham, muitas vezes sem alcançar a recompensa para tal esforço. O outro é o país dos privilegiados, dos que são mais iguais do que os outros, dos que dão o "carteiraço" para assegurar suas vantagens e prerrogativas. A posse de Jáder Barbalho, em si, já é um escárnio, uma afronta aos brasileiros honestos. Porém, como em nosso país, algumas pessoas parecem estar acima das leis, Barbalho assumiu sua cadeira no Senado. Seu filho, mesmo ainda sendo uma criança, demonstrou saber que pertence a um grupo de brasileiros para quem a lei é algo que só se aplica aos outros. Sua careta é um tapa na cara do brasileiro médio, com suas dificuldades e privações. Com apenas 9 anos, Daniel Barbalho já ostenta sua condição de privilegiado com indisfarçável satisfação. Sabe que a vida lhe reserva dinheiro fácil, mordomias, vantagens, e toda uma série de condições que são negadas ao cidadão comum. Isso não lhe constrange, pois acostumou-se a encarar tais fatos como naturais. O menino, ainda tão pequeno, é o retrato de um país brutalmente injusto e desigual, e que, pelo que mostra a sua atitude, continuará assim por muito tempo.