terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

As singularidades do futebol

O futebol é uma atividade que, decididamente, obedece a parâmetros muito próprios. Em que outro meio profissional há tantos ganhos astrônomicos, disparatados, com cifras elevadas encaradas com naturalidade, como se fossem alguns tostões? O mais curioso é que tais ganhos, muitas vezes, não são correspondentes ao nível de qualificação e preparo de quem os obtém, ao menos no Brasil. A maioria dos técnicos do futebol brasileiro não tem nenhuma formação acadêmica para exercer a função. A quase totalidade dos treinadores brasileiros é formada por ex-jogadores que param de atuar num dia e começam na nova função, praticamente, no outro. Por incrível que pareça, trata-se de um perfil valorizado, principalmente, pelos jogadores, que preferem técnicos que falem a chamada "língua dos boleiros", enquanto desdenham de quem tenha uma sólida formação acadêmica mas nunca tenha chutado uma bola. Um exemplo nessa direção acaba de ser dado por um dos maiores clubes brasileiros, o Corinthians. O clube anunciou como seu novo gerente de futebol o  ex-jogador William que, até o final do ano passado, ainda atuava pelo próprio Corinthians. William, é verdade, possui um nível instrucional e uma capacidade de expressão acima da média dos jogadores brasileiros, mas, ainda assim, que qualificação específica o ex-jogador possui para assumir tal cargo que, certamente, é muito bem remunerado? Num período tão breve de tempo como o que separou sua despedida dos gramados e sua estréia nos gabinetes, William, certamente, não fez nenhum curso preparatório para a nova atividade. Por certo, tal situação seria impensável no tão profissional futebol europeu, por exemplo. Uma das razões pelas quais nossos técnicos não conseguem, com raras exceções, abrir mercado na Europa é, justamente, a sua condição de "práticos licenciados", sem o devido conhecimento acadêmico. Um gerente de futebol na mesma condição deve ser então, provavelmente, um exotismo típico do Brasil. Nada contra William. Tomara que ele tenha êxito na nova função, mas nossos clubes precisam ser mais exigentes quanto a qualificação de quem ocupa cargos tão importantes num esporte que desperta tanto interesse.