quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Imprensa livre

A imprensa conservadora brasileira denuncia constantemente a intenção, por parte do governo federal, de "cercear a liberdade de expressão", "controlar os meios de comunicação", e outras acusações de igual gênero. Na verdade, a dita "comunicação social", no Brasil, se encontra num patamar lastimável, pois ela nada tem de social. Os grandes veículos da imprensa brasileira não traduzem o pensamento das ruas, apenas espalham pregações afinadas com os interesses e a visão de mundo dos seus proprietários. O maior exemplo disso é a revista "Veja". A publicação está permanentemente atenta a toda e qualquer ação que entenda ser de um cunho esquerdista e antidemocrático, mas faz exatamente o que condena, no flanco oposto, o da direita. Entre as "pérolas" que podem ser extraídas da sua última edição estão coisas como: "Obama fala da desigualdade como se fosse, sempre, uma chaga. É da desigualdade de renda que nascem investidores que, por sua vez, animam e inovam a economia, de tal modo que ela só é nefasta quando excessiva e aguda". Pois é, é isso mesmo que você leu. A revista estava se referindo a denúncia, feita pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, da desigualdade de renda em seu país. "Veja" entende que um pouquinho de desigualdade não faz mal a um país. Algo tão lógico quanto um médico dizer para o seu paciente que um pouco de febre é até bom, ou que uma dor, se não for muito forte, não traz nenhum problema! A revista enviou o seu "especialista" em educação, Gustavo Ioschpe para a China, a fim de documentar a excelência de seu método de educação. Ioschpe ficou fascinado com um sistema de ensino que prevê aulas em dois turnos todos os dias, três horas de deveres escolares todas as noites em casa, e reforço aos domingos. A maioria dos jovens chineses submetidos a esse sistema, exalta o enviado, não tem namorada, não vai a baladas, não usa drogas e não fuma. Ioschpe só se esqueceu de dizer que os cidadãos chineses vivem num país sem democracia, onde a internet é censurada, a carga horária de trabalho é desumana, os salários são aviltantes. Ao atacar sistematicamente o governo brasileiro, legitimamente eleito, ignorar um livro que expôs as mazelas da administração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por quem nutre indisfarçável simpatia, defender a ideia de que a desigualdade social não é um mal em si, e fazer a apologia de um regime despótico e desumano como o que comanda a China, "Veja" demonstra que está a serviço, unicamente, dos interesses do neoliberalismo selvagem. Sua linha editorial torna-se, a cada dia, mais fobicamente reacionária e direitista. Em termos práticos, a revista nada tem conseguido com sua pregação fascistóide. Pelo contrário, os índices de aprovação dos governos de Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef são os maiores da história do país, e não há nenhum indício de que o PT possa deixar a presidência da República tão cedo. Porém, é necessário que a comunicação social no Brasil seja repensada. Ela tem de refletir os interesses da sociedade como um todo, não de grupos. A grande imprensa quer que tudo fique como está, mas assim não pode ser. A liberdade de expressão e informação tem de ser preservadas, mas os veículos de imprensa devem contemplar, prioritariamente, o pensamento da opinião pública, não o de seus proprietários. Dessa forma, com esperneio ou não, mais cedo ou mais tarde, uma nova regulamentação da comunicação no Brasil terá de ser feita. Para o bem da maioria e interesse maior do país.