terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Brumadinho

O leitor desse espaço deve ter ficado intrigado. Afinal, os dias iam transcorrendo, e nada do crime ambiental de Brumadinho (MG) ser abordado. Foi uma opção, já que o assunto continua em evidência, não perdeu atualidade, e era preciso não ceder ao impulso natural de escrever um texto raivoso, diante de um acontecimento tão revoltante. O fato é que o rompimento da barragem em Brumadinho, que repete outro crime ambiental ocorrido há três anos em Mariana (MG), é extremamente emblemático do atual governo. O presidente Jair Bolsonaro e sua equipe são defensores de um capitalismo extremado, onde fiscalizações ambientais são tidas como um entrave ao desenvolvimento. Assim sendo, a Vale, a grande responsável pelo hediondo homicídio coletivo, sairá incólume do episódio, bem como seus principais diretores. Algumas arraias miúdas serão presas, temporariamente, mas depois tudo voltará ao normal, contando com o arrefecimento da indignação da opinião pública, que deverá vir com o tempo. Enquanto foi uma empresa estatal, a Vale nunca apresentou situações desse tipo. Porém, a empresa, num dos mais repugnantes exemplos de transferência de patrimônio público para mãos particulares, foi privatizada, por um preço muito abaixo de seu valor de mercado, pelo governo FHC. No Brasil, como sempre, e mais do que nunca, privatizam-se os lucros e socializam-se os prejuízos. Para a população, o que restará do acontecido em Brumadinho serão as dores irreparáveis das pessoas queridas que perderam suas vidas, e as sequelas ambientais terríveis que irão permanecer por décadas. Os criminosos que causaram o rompimento da barragem em Brumadinho ficarão impunes, fingindo-se pesarosos com o ocorrido, sob a proteção do bando de gangsters que governa o país.