terça-feira, 20 de setembro de 2011

A comemoração de uma derrota

Retorno ao Rio Grande do Sul, depois de breve viagem, exatamente no dia em que se comemora a "Revolução Farroupilha". Sim, coloco a expressão entre aspas, pois se trata de um movimento fracassado. Durante dez anos, de 1835 a 1845, viveu-se a ficção de que o Rio Grande do Sul era um país independente. Na verdade, a dita "República Farroupilha" mudou sua capital várias vezes, sempre em municípios que, até hoje, tem pouca expressão política e econômica. Em Porto Alegre e Rio Grande as forças farroupilhas foram sempre rechaçadas, apesar das muitas tentativas em tomar as duas cidades, que permaneceram fiéis ao Império. A data em que se comemoram os "feitos" farroupilhas é feriado estadual. Trata-se da estranha comemoração de uma derrota. A tentativa separatista malogrou, o Rio Grande do Sul tornou a fazer parte do Brasil, e, no entanto, o culto ao movimento farrapo permanece. Até a bandeira estadual é a mesma da fracassada república. Tocar nesse assunto é mexer numa casa de marimbondos, pois os valores gauchescos e "nativistas" são exaltados massacrantemente, numa estratégia que busca abafar qualquer contestação. Faz-se uma mitificação do gaúcho pilchado, como se ele fosse a representação fiel do habitante do Estado. Festivais de música nativista, cavalgadas pelo litoral, programas de televisão, emissoras de rádio inteiramente dedicadas ao gauchismo, são algumas das formas usadas para que as coisas "gaudérias" estejam sempre em evidência. Todo esse esforço demonstra um forte sentimento separatista em relação ao Brasil, o que é uma estupidez, para dizer-se o mínimo, e, o que é ainda pior, conduz o Rio Grande do Sul a um deletério isolacionismo, cujos efeitos nefastos já se fazem sentir até na economia. Não há razão para toda essa exaltação do Rio Grande do Sul, como se fora uma pátria. O Rio Grande do Sul é um estado, uma das unidades que compõem a república federativa brasileira. Estados são apenas divisões político-administrativas. O que importa, mesmo, são os municípios e o país. Os primeiros porque são onde, verdadeiramente, as pessoas vivem, o segundo porque é o que nos dá identidade, concedendo-nos uma nacionalidade. Estados são apenas uma forma de dividir um território, nada mais. Se servir de consolo, contudo, cabe lembrar que comemorar derrotas políticas não é exclusividade do Rio Grande do Sul. Também o estado de São Paulo celebra, no dia 9 de julho, com feriado estadual, a "Revolução Constitucionalista de 1932", outro movimento que foi derrotado pelas forças do governo federal da época. As duas datas em questão são um exemplo escancarado do quanto a visão que se tem de um acontecimento pode preponderar sobre a realidade. Expressam um desejo de afirmação de duas teses, amplamente desmentidas pela realidade dos fatos.