sexta-feira, 29 de março de 2013

Tradições

Hoje é Sexta-Feira Santa, e é interessante perceber o quanto datas como essa foram perdendo força ao longo do tempo. Desde já, deixo claro que não se trata de uma observação em tom de lamento, pelo contrário. A influência da Igreja Católica no Brasil sempre me pareceu excessiva, de forma a impor seus usos e costumes, crenças e rituais, como se todos devessem segui-los. A chamada "secularização" da sociedade, tão condenada por alguns religiosos, é, na verdade, bastante saudável, principalmente num país laico. Os que já não são tão jovens, como é o meu caso, ainda se recordam dos tempos em que, na Sexta-Feira Santa, as rádios não podiam tocar músicas, com exceção das composições sacras. A proibição ao consumo de carne era seguida a risca, quem não o fizesse cometia um "terrível pecado". As famílias viviam um dia de pesar, em que não se permitiam risos ou brincadeiras. O conteúdo religioso da Semana Santa sobressaía fortemente sobre interesses mundanos, como aproveitar dias de folga ou ganhar chocolates. Esses tempos ficaram para trás. Claro que continuam as missas e celebrações, procissões, encenações do calvário de Jesus Cristo, entre outras fortes manifestações de religiosidade típicas dessa época do ano. Os que professam a fé católica tem todo o direito de vivenciarem a data de acordo com seus preceitos e convicções. Porém, isso fica restrito ao âmbito das paróquias, como sempre deveria ter sido. As rádios, agora, tocam todo o tipo de música, sem restrições. As pessoas riem e brincam livremente, sem constrangimentos. A grande maioria da população encara a data, e os demais dias de feriado da Semana Santa, como uma oportunidade para viajar e vê na Páscoa um dia para presentear com chocolates. Há os que lamentam profundamente que, hoje em dia, essa e outras datas religiosas não sejam reverenciadas como em outras épocas. Não estou entre eles. A fé é uma questão pessoal, não coletiva. Cada um que viva de acordo com o que pensa e acredita. A sociedade como um todo, contudo, não deve alterar o seu procedimento habitual em função de nenhuma data religiosa. Isso não é "secularização", é avanço civilizatório, fuga do obscurantismo. Para quem, como eu, conheceu o quadro anterior, é, sobretudo, motivo de grande satisfação.