segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Brincadeira macabra

A farsa da normalidade institucional no Brasil se amplifica a cada dia. A interminável novela da volta do voto impresso é mais um exemplo disso. Na verdade, as instituições foram violentadas no Brasil em 2016, quando Dilma Rousseff, presidente legitimamente eleita, foi vítima de um absurdo processo de impeachment por alegadas "pedaladas fiscais". Desde então, o país vive um simulacro de democracia, em que as instituições estão submetidas a uma lógica golpista, disfarçadas por uma capa de normalidade. A ideia estapafúrdia de retomar o voto impresso não conta com a simpatia da maioria dos parlamentares, mas os que são fiéis ao presidente genocida Jair Bolsonaro, e o seu assecla Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, insistem em manter o assunto em evidência. Os atos em favor da medida, ocorridos, ontem, em algumas cidades do país, tiveram baixíssima adesão. Tudo isso só acontece porque o Poder Judiciário, que tem força e razões suficientes para determinar o fim do governo Bolsonaro, limita-se a trocar farpas com o ex-capitão e seus cupinchas, numa brincadeira macabra cuja vítima é o povo brasileiro. Deixar que Bolsonaro continue no cargo, arrastando-se até concorrer à reeleição, é um crime lesa-pátria. A defesa do voto impresso feita por Bolsonaro e seus seguidores é apenas um meio de tumultuar o processo eleitoral, justificar a não aceitação de uma derrota inevitável, e abrir caminho para um novo golpe. A guerra de declarações entre ministros do Supremo Tribunal Federal e Bolsonaro, com ameaças de ambos os lados que nunca se cumprem, só servem para manter o ambiente político do país em ebulição. Cabe aos magistrados evitar que as eleições do próximo ano sejam ameaçadas de não se realizarem, ou venham a ter o seu resultado fraudado. Para isso, a solução é fazer Bolsonaro pagar por todos os seus malfeitos, destituindo-o do cargo.