terça-feira, 10 de março de 2015

Panelaço

Embora todo o esforço da grande imprensa para fixar a ideia de que há uma insatisfação geral na população brasileira em relação ao governo federal, o "panelaço" ocorrido no domingo, durante pronunciamento da presidente Dilma Rousseff no rádio e na televisão, deixou claro onde está localizada a "revolta". Circunscrito a poucas cidades, o "protesto" se deu em zonas economicamente privilegiadas. Entre elas, o bairro da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Será mais fácil, certamente, encontrar água no deserto do que um morador pobre nessa área da Cidade Maravilhosa que emula Miami. Repleta de condomínios luxuosos e cercada de shoppings centers, alguns de altíssimo luxo, a Barra, como é carinhosamente chamada, desconhece o que seja pobreza, vive mergulhada na opulência. Não deixa de ser intrigante a inconformidade com o governo manifestada por pessoas tão privilegiadas. A única explicação para esse procedimento é que não lhes apraz um governo que promova uma maior justiça social. Não que isso lhes cause qualquer prejuízo real, mas porque desejam manter a exclusividade quanto a alguns hábitos de vida e de consumo. Para essas pessoas, é extremamente desagradável constatar que muitos que antes só podiam viajar de ônibus, agora o fazem de avião. Aborrece-as, profundamente, a ideia de que outras pessoas, vindas de camadas menos privilegiadas da sociedade, possam embarcar rumo à Disneyworld, algo antes restrito aos mais endinheirados. Irrita-lhes pensar que mais pessoas tenham podido adquirir um carro. Estaria aí, na sua singular visão, a razão de o trânsito no Brasil ser tão caótico, pois há carros "demais", cujos proprietários, no seu entender, deveriam conformar-se com o transporte coletivo. Não há revolta popular alguma no Brasil. O que há é uma absurda tentativa de golpe contra a democracia insuflada por fascistas nas redes sociais e apoiada por uma imprensa direitista raivosa.