domingo, 21 de dezembro de 2014

Visão equivocada

Uma nota na seção "Radar" da revista "Veja", em sua mais recente edição, chama a atenção por expor uma visão equivocada sobre a tentativa dos meios de comunicação de se manterem em sintonia com o "futuro" e de agradarem ao público jovem. A nota refere-se ao fato de que a Rede Globo, que completará 50 anos em 2015, pretende comemorar a data com "cuidado". A Globo teme parecer apegada ao passado e, por isso, não quer rechear a programação com um tom de nostalgia, pois entende que isso afugenta o telespectador mais jovem. A ideia central da comemoração é falar de futuro o tempo todo, conforme "Veja". Entendo que há erros conceituais nessa postura. Primeiramente, 50 anos é uma data redonda, e muito expressiva quando se trata da história de uma empresa. Em tão largo espaço de tempo, são muitos os feitos a serem exaltados. Portanto, o recurso à nostalgia não seria nenhuma impropriedade. Em segundo lugar, a preocupação em agradar o público jovem já levou a própria Globo a cometer erros. Recentemente, ela levou ao ar a novela "Geração Brasil" com uma história de muitos personagens jovens e calcada na onipresença da informática nos dias de hoje. A novela foi um fracasso. A busca obsessiva pela audiência faz com que os veículos de comunicação tentem identificar o que os jovens querem e que busquem antecipar tendências para o futuro. A ideia de que o passado deva ser desprezado e de que só o novo tem vez é um absurdo. Ao abolirmos as citações ao passado, estamos nos condenando a ausência de referências. A trajetória de uma empresa, e mesmo a vida de uma pessoa, é uma construção ao longo do tempo. Não se pode ignorar a importância do passado nessa caminhada. O futuro é importante, mas é uma abstração. O passado, por já estar consolidado, merece ser lembrado, e, no caso de uma história vitoriosa como a da Globo, receber o devido destaque.