sexta-feira, 10 de junho de 2011

Um banquinho e um violão

Hoje, João Gilberto está completando 80 anos. Figura controvertida, homem excêntrico, tornou-se recluso e praticamente não sai de seu apartamento no Leblon, no Rio de Janeiro. Temperamental, irascível, é conhecido, também, por suas reclamações quanto aos ruídos externos em seus shows, nos quais exige absoluto silêncio. Em que pese seu gênio difícil, no entanto, João Gilberto é um marco na história da música popular brasileira. Seu estilo inconfundível de cantar, com a voz sussurrante, transformou a música brasileira, até então povoada de intérpretes do estilo "vozeirão". Com um banquinho e um violão, deu início a um movimento, a Bossa Nova, que redesenhou o panorama musical no país e alcançou imenso prestígio no exterior. João Gilberto nunca gozou da condição de ídolo das massas, porém, até hoje, a maioria dos grandes nomes da música nacional o apontam como uma referência. Ao longo de mais de 50 anos de carreira, João Gilberto tem mantido basicamente o mesmo repertório em seus shows e discos, isto é, os clássicos da Bossa Nova, surgida no final dos anos 50. Não importa. Ninguém quer de João Gilberto o lançamento de obras repletas de músicas inéditas. João praticamente não compõe, mas é o intérprete mais fiel de um estilo, de uma época, de uma bossa, enfim. No dia de hoje, é isso que deve ser referido e exaltado, não suas esquisitices. Afinal, sem nenhum exagero, se pode dizer que, dada a singularidade de seu estilo e do impacto que causou, a música brasileira se divide em antes e depois de João Gilberto.