sábado, 11 de dezembro de 2021

Monarco

Uma lenda do samba. A morte de Monarco, presidente de honra da Portela, hoje, aos 88 anos, representa a perda de mais uma figura mítica da velha guarda do mais representativo dos gêneros musicais do país. Monarco, assim como Nélson Sargento, Dona Ivone Lara, Carlos Cachaça, todos também falecidos, era um nome da era de ouro das escolas de samba, quando os desfiles ainda não haviam se tornado um megaespetáculo tão fascinante quanto caro, transformado num dos maiores atrativos turísticos do Rio de Janeiro. Hoje colocados em posição periférica nos desfiles, obscurecidos pelas alegorias luxuosas e a criatividade cada mais excèntrica dos carnavalescos das escolas, compositores como Monarco, autor de grandes sambas-enredo, constituem o modelo raiz desse gênero tão envolvente. Com a morte deles, o carnaval vai perdendo o que ainda lhe resta de autenticidade e espontaneidade, de composições tão inspiradas quanto despidas de pretensões arrogantes. Nomes que brilhavam no chão de quadra, nas feijoadas sem hora para acabar, embaladas pelo samba que não parava de tocar. Um Brasil de uma arte pura e genuinamente popular vai, aos poucos, saindo de cena, deixando um rastro de saudade.