quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Conversões

Há assuntos que são muito espinhosos. Entre eles estão os que envolvem crenças religiosas. Trata-se de um terreno minado, que desperta reações iradas por parte daqueles que se sentem atingidos na sua fé. Não irei, no entanto, abordar a religião em si, mas a postura de algumas pessoas diante dela. A religião é um anteparo para muitas pessoas, que encontram nela um suporte psicológico diante das dificuldades da vida. Muitas vezes, contudo, a busca da fé, ou mesmo uma conversão, evidenciam uma atitude escapista. Alguns dias atrás, li uma notícia que dava conta de que a cantora Elba Ramalho revelara que abdicou de manter relações sexuais, e está levando uma vida casta.há um ano e três meses. Elba, que está com 61 anos, e sempre relacionou-se com homens bem mais jovens do que ela, disse que se consagrou definitivamente com Nossa Senhora, leva uma vida reclusa, não está namorando, e vem se dedicando às obras sociais, religiosas e à família, o que, segundo afirmou, tem lhe dado "prazer". Por que me ocupo deste tema? Porque me chama a atenção a ocorrência de certas "conversões" em mulheres famosas que, antes, tinham uma vida voltada para os prazeres mundanos. O caso de Elba Ramalho não é o primeiro, nem será o último. A ex-modelo Rose di Primo, a cantora Baby Consuelo e a atriz Myrian Rios são outros exemplos nesse sentido. Em comum, todas tiveram, antes de receberem o chamado da fé, uma vida sexual intensa. Atualmente deputada estadual no Rio de Janeiro, Myrian diz estar há mais de dez anos sem sexo e passou a defender ideias extremamente conservadoras, inspiradas por sua conversão religiosa. Não quero desdenhar da fé de ninguém, mas tais conversões não me convencem. No fundo, em todos estes casos, a religião é um escapismo, uma forma encontrada por tais celebridades para enfrentar o ocaso de sua atratividade como mulheres. Rose e Myrian, especialmente, atingiram a fama menos por um grande talento e muito mais por seus atributos físicos. Com a perda do viço e da juventude, as oportunidades profissionais diminuem, e o assédio masculino também. Para enfrentar com dignidade as agruras determinadas pela ação implacável do tempo, a religião surge como uma ótima válvula de escape. Permite que, perante seus próprios olhos e os dos outros, a pessoa seja vista como alguém que renunciou a uma vida errante para optar pelo "caminho certo". Nada mais é do que um artifício, para suportar a quase invisibilidade atual de quem antes era cercada por olhares cobiçosos.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Imortalidade

O torcedor do Grêmio gosta de afirmar que o seu clube é imortal, já que identifica a bravura, a garra, a obstinação e a inconformidade com o fracasso como características que lhe são intrínsecas. A classificação do Grêmio para a fase de grupos da Libertadores, após uma escassa vitória por 1 x 0 contra a LDU no tempo normal, e a decisão nos tiros livres da marca do pênalti, reforça essa ideia. O Grêmio não chegou a jogar bem, mais uma vez teve muita dificuldade em atacar, esteve muito desfalcado, mas, ainda assim, obteve a sua classificação, e do jeito que o seu torcedor gosta, com heroísmo e sacrifício. Falta muito ao Grêmio para estar em condições de almejar o título da Libertadores. As laterais ainda não estão bem preenchidas, falta uma maior quantidade de zagueiros, e o ataque segue sendo ineficiente. Porém, o que importa é que o Grêmio ganhou e, com isso, a Arena já começa com a fama de "pé quente". O gramado ainda não apresenta as melhores condições, mas isto se resolve com  o tempo. O Grêmio está na fase de grupos da Libertadores e, com isso, grandes perspectivas técnicas e financeiras se abrem no seu horizonte. Cabe ao Grêmio qualificar adequadamente o seu time para poder usufruir dos ganhos que grandes campanhas e títulos de expressão poderão lhe proporcionar. Há muito a fazer, mas o Grêmio entrou no páreo, e nunca se deve desprezar um imortal, por mais discutível que pareça a qualidade do seu time. O sufoco da Pré-Libertadores foi superado. Agora, sim, o ano do Grêmio vai começar, e só depende dele construir um final feliz.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O jogo que decide um ano

Pode parecer exagero, mas não é. O Grêmio está, hoje, na véspera de um jogo em que toda a sua perspectiva para 2013 será decidida. Se obtiver, contra a LDU, a classificação para a fase de grupos da Libertadores, um caminho risonho se abrirá para o clube, com grandes jogos e boas cotas por partida. Se for eliminado, uma crise certamente ocorrerá, e até o técnico Vanderlei Luxemburgo, que renovou contrato por dois anos, poderá perder o cargo. O Grêmio corre muitos riscos no jogo de amanhã à noite. Como perdeu o primeiro jogo, em Quito, é obrigado a vencer. Porém, não basta vencer, é preciso pelo menos dois gols de diferença, devido ao saldo qualificado. Se ganhar por 1 x 0, mesmo placar pelo qual foi derrotado, decidirá tudo na loteria dos tiros livres da marca do pênalti. O time ainda possui carências evidentes nas laterais, e talvez jogue desfalcado de Cris, o que seria desastroso, pois o único zagueiro disponível para substituí-lo é o precaríssimo Douglas Grolli. O gramado da Arena ainda não apresenta as condições ideais, o que é outro fator complicador. A torcida enfrenta dificuldades para a aquisição de ingressos, o que lhe causa irritação e não permite a devida mobilização para o jogo. São muitas os riscos envolvendo a partida, mas o Grêmio terá de superar todos eles. Caso contrário, para o clube, o ano poderá se encerrar pouco depois de ter se iniciado.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Desdobramentos

Um acontecimento tão brutal como o incêndio na boate "Kiss", em Santa Maria (RS), é algo cujos efeitos não se esgotam em poucas horas. Sua assimilação só se dá com o correr dos dias, permitindo que a análise lúcida dos fatos se sobreponha à comoção por eles causada. Porém, não é possível que se deixe prosperar a ideia de que o ocorrido foi uma fatalidade. Não foi. Fatalidades são acontecimentos que se abatem sobre as pessoas sem que alguém tenha agido para a sua ocorrência. Não é o caso. Os proprietários de uma casa noturna cujo alvará de funcionamento está vencido, em que os extintores de incêndio não funcionam, com apenas uma porta de saída num ambiente que pode receber até 1,5 mil pessoas, em que o revestimento do isolamento acústico é altamente inflamável, concorrem para a possibilidade de que uma tragédia venha a se consumar. Um grupo musical que realiza um espetáculo pirotécnico num ambiente fechado, também age de forma inconsequente e irresponsável. Os diversos órgãos fiscalizadores que não cumpriram com o seu papel para coibir tais absurdos, igualmente tem parcela de responsabilidade pelo trágico acontecimento. A dor de quem perdeu pessoas queridas no incêndio não irá acabar, mas muito pior será se não se fizer justiça, punindo todos aqueles que, por ação ou omissão, permitiram que algo tão calamitoso acontecesse. Os que sofrem com a perda irreparável de seus filhos, irmãos, primos ou amigos, só terão um mínimo de conforto se os responsáveis pelo quadro dantesco verificado na boate "Kiss" receberem a devida punição. Não foi um acontecimento casual. Doloso ou culposo, o que ocorreu foi um crime. Um crime sempre tem autores, e estes tem de pagar por ele.

domingo, 27 de janeiro de 2013

A tragédia de Santa Maria

Meu assunto, hoje, não poderia ser outro. A tragédia de Santa Maria (RS), o segundo maior incêndio, em número de vítimas fatais, da história do Brasil. Como definir um quadro em que um local de lazer, uma boate, acabe se transformando na área onde morram 232 pessoas, todas jovens, que, no momento em que irrompeu o incêndio, assistiam a um show musical? Pela informações que vão chegando com o transcorrer das horas, uma série de atos irresponsáveis culminou no trágico acontecimento. Começa pelo alvará de funcionamento da boate "Kiss", onde ocorreu o fato, que estaria vencido desde agosto. Prossegue com o lançamento, por parte de um dos integrantes do grupo "Gurizada Fandangueira", que se apresentava naquele momento, de um sinalizador dentro de um ambiente fechado. Culmina com a atitude dos seguranças da casa noturna, que teriam bloqueado as portas de saída, quando do início do tumulto, pensando se tratar de uma briga, e tentando evitar que pessoas saíssem sem pagar. Um fato traumatizante, de repercussão internacional, mas que não pode ficar só na comoção. As vítimas não terão sua vida de volta, e suas famílias estarão para sempre abaladas, mas, até para que outros não venham a passar pelo mesma situação, urge que se tomem medidas para evitar a repetição de fatos como este. Uma casa noturna sem alvará não pode funcionar. As saídas de emergência tem de ser numerosas e não podem, sob alegação alguma, sofrer qualquer tipo de bloqueio. Mais uma vez, a sede de lucro ou o temor de possíveis prejuízos leva a atitudes injustificáveis, que redundam em perda de vidas. Uma tragédia com tamanho número de vítimas tem de servir, ao menos, para que se deixe de lado o "jeitinho" e se procedam as fiscalizações e vistorias necessárias para o funcionamento desse tipo de estabelecimento. No calor dos fatos, todos se propõem a fazer de tudo para que tais fatos não se repitam. Depois, tudo tende a cair no esquecimento, Tomara que, desta vez, seja diferente, apurando e punindo os possíveis responsáveis pelo ocorrido, e intensificando medidas preventivas e fiscalizatórias que garantam a segurança dos frequentadores de locais de diversão.

sábado, 26 de janeiro de 2013

O encontro com o inescapável

Vários dos concorrentes na categoria de melhor filme da próxima edição do Oscar, que acontecerá no dia 24 de fevereiro, estão em cartaz nos cinemas brasileiros. Entre eles está "Amor", que concorre, também, aos prêmios de filme estrangeiro, diretor, com o austríaco Michael Haneke, atriz, com a francesa Emmanuelle Riva, e roteiro original. Sucesso de crítica, "Amor" nem sempre é bem recebido pelo público. Percebi, ao assisti-lo, que muitas pessoas deixavam o cinema antes do seu final. Porém, não acho que o fizessem por considerarem o filme ruim e, sim, por se sentirem perturbadas pelo que ele aborda. "Amor" trata, basicamente, da doença e da morte, temas que são sempre espinhosos, e dos quais tentamos nos evadir. Muitos se queixam que o filme é arrastado, mas isto se deve mais ao vício do público em considerar que o ritmo correto de um filme é o frenético, típico das produções americanas. "Amor" é uma co-produção franco -germânico-austríaca, com elenco francês. Sua temática intimista não poderia ser enfocada de maneira acelerada. O filme é denso e impactante, mexe com as emoções do espectador, convidando-o a encarar situações dolorosas, mas inescapáveis. A atuação dos protagonistas e notável, e fica difícil entender porque o grande Jean-Louis Trintignant também não foi indicado para o prêmio de melhor ator. Sua interpretação, como o marido que se vê diante da doença e da decadência física da mulher com quem viveu toda uma existência, é soberba. Ele procura manter o controle e o sangue frio diante da situação, até desabar num gesto extremado. A doença é algo que atinge a quase todos, e a morte não poupa ninguém. Talvez por isto, "Amor" se mostre tão perturbador para algumas pessoas. Não é um filme fácil ou agradável, mas é uma grande obra, merecedora do destaque que alcançou.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O barateamento da energia elétrica

Numa medida incomum em se tratando de governos, a presidente Dilma Rousseff anunciou, em rede nacional de rádio e televisão, na quarta-feira, a redução das tarifas de energia elétrica. O fato deveria ser saudado por todos, pois beneficia diretamente o bolso dos cidadãos, e por contrariar a tendência de onerar a população com cobranças e taxas de toda a ordem. Porém, a mesquinharia política falou mais alto. A oposição já está acusando Dilma de ter feito "uso eleitoral" da rede nacional de rádio e tevê. O nefando deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO), vice-líder do DEM na Câmara dos Deputados, quer que seja analisada a viabilidade de Dilma ser obrigada a pagar pelos oito minutos de tempo utilizados em seu pronunciamento. Trata-se de uma demonstração de desespero de uma oposição sem propostas e sem discurso, diante de mais um ato de grande alcance social do governo. Por essas e por outras é que Luís Inácio Lula da Silva ficou oito anos no poder e Dilma vai pelo mesmo caminho. Seus governos apresentam muitos defeitos, mas tem uma inegável preocupação social. Como costuma acontecer com todos aqueles que defendem, unicamente, os interesses das elites, os opositores do atual governo tacham tais decisões de populistas. Para eles, governar implica em tomar medidas duras e impopulares "pelo bem do país", tirando de quem quase nada tem para encher ainda mais os cofres dos que muito possuem. Os defensores da candidatura a presidente do senador Aécio Neves (PSDB-MG), já gestionam, inclusive, a formação de uma equipe econômica com os Pedros Malans e Gustavos Francos da vida, que fazem a alegria dos empresários e o terror do cidadão comum. Não vão levar. Com suas medidas de amplo alcance social, os atuais detentores do poder ainda terão um longo período de governo, com índices altos de popularidade. Aos seus opositores restará, ainda por muito tempo, chorar e espernear.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Tendência preocupante

O Grêmio perdeu, hoje, com o seu time B, para o Canoas, por 2 x 1, no Olímpico, pelo Campeonato Gaúcho. Somada com a de ontem, do time principal, para a LDU, é a segunda derrota consecutiva do Grêmio em dois dias seguidos. O ano mudou, mas a tendência do Grêmio de sofrer tropeços continua, tal e qual em 2012. Aliás, o Grêmio não conquista um título de expressão desde 2001, e até mesmo o Gauchão só ganhou por três vezes nesse período. A derrota tem se tornado frequente na vida do Grêmio, e isso é terrível para um clube grande. Nada parece alterar esse rumo. O Grêmio tem um técnico que é, reconhecidamente, um dos melhores do Brasil, e voltou a ser presidido pelo dirigente mais vitorioso da sua história, mas, ainda assim, os resultados negativos tornam a acontecer. O ano está apenas começando, é claro, e perder também faz parte do futebol, mas, para quem tem sede de conquistas como o Grêmio, começar enfileirando resultados positivos é muito importante para infundir confiança. Afora isso, o Grêmio precisa tirar proveito do fato de que seu maior rival, o Inter, tem perspectivas pouco promissoras para o ano que se inicia, pois jogará fora do seu estádio, que está em obras, seu técnico é uma aposta, seu time perdeu qualidade e o orçamento para o futebol diminuiu. Para o Grêmio, será fundamental classificar-se para a fase de grupos da Libertadores, impulso necessário para encaminhar-se a novos tempos de glória. Se não conseguir, se instalará uma enorme crise no clube, prolongando o jejum de títulos e fazendo com que a era da Arena comece com o espectro do fracasso.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Derrota

Em princípio, considero que não há resultado injusto em futebol, a não ser que ele seja determinado por erros de arbitragem. Portanto, não classificaria, como fizeram alguns companheiros de imprensa, a derrota do Grêmio para a LDU, por 1 x 0, hoje, em Quito, como injusta. Porém, é inegável que o placar do jogo não traduziu o que se viu em campo. Depois de um primeiro tempo em que a LDU teve muito maior posse de bola, mas sem levar grande perigo ao gol do Grêmio, o segundo tempo foi de amplo domínio gremista, inclusive mostrando, mesmo com a altitude, mais preparo físico que o adversário, por incrível que pareça. Faltou transformar essa superioridade em gols, o que só não aconteceu porque Marcelo Moreno, mais uma vez, não deu a resposta esperada. O outro atacante que começou o jogo, William José, confirmou a impressão que sempre tive sobre ele, e foi substituído por Vargas, no intervalo, depois de fazer um péssimo primeiro tempo. O Grêmio jogou uma boa partida e, afora os atacantes, só Elano apresentou uma atuação abaixo da média do time. Chamou a atenção o fato de que, mesmo depois de 30 dias de férias, Elano parece estar tão esgotado quanto no final de 2012. O gol da LDU foi, praticamente, uma fatalidade dentro da partida. Claro, há riscos para o Grêmio no segundo jogo. Como não fez gol fora de casa, se sofrer algum em seu estádio, ficará numa situação difícil, em função do saldo qualificado. No entanto, tudo indica que o Grêmio deva obter sua classificação para a fase de grupos da Libertadores, pois mostrou ser bem melhor, tecnicamente, do que a LDU.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Primeira convocação

O novo técnico da Seleção Brasileira, Luís Felipe Scolari, o Felipão, fez sua primeira convocação, para o amistoso contra a Inglaterra, no dia 6 de fevereiro, em Wembley. No meu entender, foi uma convocação irregular, com grandes acertos, mas, também com equívocos. Entre os acertos, a volta de Hernanes, que jamais deveria ficar de fora de qualquer chamada, Arouca, que agora estará numa Seleção "quente" e não apenas com jogadores que atuam no Brasil, a manutenção de Ramires que, comprovando sua qualidade, já está trabalhando com seu terceiro técnico na equipe brasileira, e a permanência de nomes que se destacaram na era Mano Menezes, como Diego Alves e Hulk. Entre os equívocos, as voltas de Júlio César e Ronaldinho, e as presenças de Dante, Miranda e Leandro Castán. Júlio César vive um má fase que já se estende por cerca de três anos, o que ocasionou sua saída do Internazionale, de Milão (ITA) e sua ida para o modesto Queen's Park Rangers (ING), lanterna do Campeonato Inglês, onde, por sinal, já é reserva. Ronaldinho, ainda que tenha feito um bom Campeonato Brasileiro, em 2012, pelo Atlético Mineiro, jamais brilhou na Seleção tanto quanto nos clubes, e estará com 34 anos quando da realização da próxima Copa do Mundo. Dante, embora jogue no grande Bayern de Munique, é um desconhecido do torcedor, lhe falta identificação com o futebol brasileiro. Miranda e Leandro Castán também jogam em clubes de destaque na Europa, Atlético de Madri (ESP) e Roma (ITA), respectivamente, mas são zagueiros apenas medianos. Alex, do Paris Saint Germain (FRA) e Dedé, do Vasco, por exemplo, são bem melhores. Portanto, a convocação foi apenas razoável. Resta esperar para ver o rendimento em campo, e torcer para que, com o tempo, Felipão aprimore suas listas de convocados.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Cantilena

O leitor deste espaço talvez já esteja cansado de verificar a frequência com que abordo este tema, mas é impossível deixar de fazê-lo. Refiro-me à insistência, igualmente cansativa, com que a imprensa conservadora brasileira identifica pretensões golpistas e antidemocráticas por parte do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e do PT. Tais fantasmas nunca foram mais do que isto, ou seja, assombrações. As "ameaças à democracia e ao estado de direito" são apenas delírios de grupos inconformados com a perda do poder. As mais novas "denúncias" dos fiscais da ética política dão conta de que Lula que ser "rei" e estaria interferindo em administrações de "correligionários que lhe devem o cargo", como afirma a revista "Veja", maior porta-voz do direitismo brasileiro. Lula estaria, segundo a publicação, reunindo-se em horário de expediente com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e membros do seu secretariado, para traçar diretrizes da administração. A revista trata o fato como escandaloso. Não vejo o porquê. Goste-se dele ou não, Lula é o maior líder político brasileiro da atualidade. Se Haddad, sabidamente, é um dos tais correligionários que lhe devem o cargo, porque Lula iria se eximir de influir em sua administração como prefeito? Dizer que Lula está transgredindo normas ao proceder assim é um argumento desesperado de quem tenta de todas as formas desacreditar a imagem do ex-presidente e do governo do PT no plano federal, e fracassa continuadamente neste intento. A revista chega ao ponto de, num tom raivoso e genérico, destituído de objetividade, afirmar que o ex-presidente, quando no poder, sempre demonstrou prazer em fazer aquilo que a Constituição, as leis, a liturgia do cargo e o bom-sendo proibiam. Outra "ameaça" captada  no ar pela imprensa conservadora foi a de que Lula teria sinalizado para a presidente Dilma Rousseff que gostaria de voltar ao cargo,  o que a impediria de concorrer à reeleição. Duas coisas devem ser esclarecidas sobre isto. A primeira é que tal hipótese não passa de uma especulação. A segunda é que ela nada tem de ilegal. Lula cumpriu dois mandatos sucessivos como presidente, o máximo que a Constituição autoriza, e não praticou o golpe de emendar a Carta Magna para obter um terceiro mandato, embora fosse líquido e certo que o conseguiria, se assim o desejasse. Agora, depois de cumprido um período com outro ocupante no cargo, nada impede que Lula concorra novamente ao posto. A cantilena contra Lula e o PT prossegue, mas nada tem obtido de prático, a não ser, provavelmente, esgotar a paciência dos leitores.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Inícios distintos

Grêmio e Inter começaram a disputa do Campeonato Gaúcho com fórmulas idênticas, mas com resultados diferentes. Ambos escalaram times reservas para suas estreias, mas o rendimento em campo foi desigual. Ontem, jogando como mandante no Complexo Esportivo da Ulbra, em Canoas, o Inter não conseguiu mais do que um empate com o Passo Fundo em 1 x 1. O Inter até saiu na frente no placar, com um belo gol de calcanhar de Cassiano, mas cedeu o empate. A partir daí, o Passo Fundo esteve mais perto do gol da vitória do que o Inter. Um início preocupante para o torcedor do Inter, que esperava mais do seu time de reservas diante do vice-campeão da Segunda Divisão. O Grêmio, ao contrário, jogou fora de casa, contra o Esportivo, de Bento Gonçalves, campeão da Segunda Divisão. Depois de um primeiro tempo que terminou em 0 x 0, o Grêmio se impôs no segundo tempo e venceu por 2 x 0. O autor do primeiro e bonito gol, Lucas Coelho, confirmou as ótimas referências sobre o seu futebol. Parece que, finalmente, depois de muito tempo, o Grêmio está revelando, em casa, um grande atacante. Foi só a primeira rodada, em jogos com times reservas, que não disputarão todo o Gauchão, mas já  gerou seus efeitos, em função de inícios distintos. Os torcedores do Inter estão de cara amarrada. Os do Grêmio, exibem um largo sorriso.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Vai começar

A maioria dos campeonatos estaduais de 2013 começará hoje. Daqui até maio, estaremos envolvidos com competições de um baixo nível técnico, reflexo de um tipo de disputa totalmente anacrônico. Os campeonatos estaduais não fazem mais sentido no contexto do futebol atual. Caracterizam-se pela reunião de clubes de representatividade e patamares financeiros muito díspares. Com isso, os grandes clubes, justificadamente, colocam os campeonatos estaduais em segundo plano, escalando times mistos ou reservas durante boa parte de seu desenrolar. Até mesmo clubes de Pernambuco e Bahia estão deixando seus campeonatos em segundo plano para privilegiara a Copa do Nordeste, que também se inicia hoje. Afora tudo isso, os campeonatos estaduais tem uma duração exagerada, prejudicando os clubes na sua preparação para competições de maior fôlego. Sendo bem realista, só resta, para quem gosta de futebol,esperar que maio chegue logo, para que os campeonatos estaduais tenham acabado e possamos voltar a nossa atenção para competições bem mais interessantes. Até lá, serão muitos jogos, e pouca qualidade em campo, tendo como consequência, com raras exceções, estádios quase vazios. Um dia, quem sabe, os dirigentes deixem de lado seus interesses menores e, em nome do melhor para o futebol, removam do calendário essas competições cuja razão de ser foi engolida pelo tempo.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Imortal

Independentemente do que venha a acontecer daqui por diante, a campanha do time júnior do Grêmio na Copa São Paulo está coroada de brilho. Em meio a disputa, o grupo viu seu técnico ser requisitado para voltar a Porto Alegre, com a finalidade de treinar o time B do Grêmio que vai jogar as primeiras partidas do Campeonato Gaúcho. Seu auxiliar-técnico ficou em seu lugar. Vários jogadores foram chamados a acompanhar o técnico em sua participação no time B, o que reduziu o grupo que permaneceu na Copa São Paulo a apenas 14 nomes. Nessas condições, o Grêmio já passou de fase duas vezes, empatando com Coritiba e Atlético Mineiro, em 1 x 1 e 2 x 2, respectivamente, e os eliminando nos tiros livres da marca do pênalti. Para quem, no segundo jogo da fase classificatória, perdeu para o modesto Espigão (RO), trata-se de uma recuperação excepcional. Enquanto isso, seu maior rival, o Inter, foi alijado da competição já na primeira fase de mata-matas, pelo pequeno Velo Clube, de Rio Claro (SP). Por essas e por outras é que o Grêmio é conhecido por "Imortal".

Vexame

Não há como qualificar de outra forma o desempenho da Seleção Brasileira Sub-20 no campeonato sul-americano da categoria, que está sendo realizado na Argentina. Foi um vexame.A exemplo da equipe anfitriã, a Seleção Sub-20 também foi eliminada na primeira fase da disputa. Em quatro jogos, venceu apenas um, por escasso 1 x 0, contra a Venezuela, com um gol de pênalti. A justificativa de que a atual geração é muito inferior a que lhe antecedeu, que tinha Neymar e Oscar, entre outros, não convence. Ainda que, em relação a si própria, a Seleção Sub-20 tivesse um nível consideravelmente inferior, sua qualidade deveria ser suficiente para se impor diante de adversários modestos como Equador e Peru, o que não conseguiu. Uma diferença substancial em comparação com o trabalho anterior, foi que, em 2011, o técnico era Ney Franco, uma das grandes revelações na função nos últimos anos, no futebol brasileiro. A Seleção Sub-20 de agora foi treinada por Émerson Ávila, um nome ainda não afirmado na profissão. Seja como for, a Seleção Sub-20 protagonizou um vexame, que não pode ser ignorado. A grandeza do futebol brasileiro exige que se tomem providências para que isso não se repita no futuro.

Walmor Chagas

O Brasil é um país de grandes atores e atrizes. Não nos faltam notáveis talentos das artes cênicas. Em meio a essa plêiade de grandes nomes, do teatro, cinema e televisão, há os que são ainda maiores, verdadeiros ícones dessa fascinante arte de representar. O Brasil perdeu, hoje, um desses pilares. A morte de Walmor Chagas, aos 82 anos, priva o país de um ator de talento excepcional e marcante presença em cena. Walmor Chagas brilhou em todas as frentes. No cinema, participou de filmes como "São Paulo S.A." e "Xica da Silva". Na televisão, fez várias novelas. Ainda na televisão, teve destaque em minisséries como "Avenida Paulista" e "Os Maias". No teatro, sua grande paíxão, trabalhou em obras clássicas, dos maiores autores do gênero. Foi casado com outro nome do Olimpo teatral brasileiro, a atriz Cacilda Becker. Há vinte anos, mudara-se para um sítio isolado no alto de uma montanha, vivendo em meio ao verde. Os índícios são de que Walmor tenha cometido suicídio. A idade avançada e a saúde, que já se apresentava frágil, talvez estejam por trás de seu gesto. Um fim trágico e sombrio para um ator de talento luminoso.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Uma usina de conflitos

Em apenas 27 dias sob o comando de sua nova diretoria, encabeçada pelo presidente Fábio Koff, o Grêmio tem se mostrado um clube intranquilo, quase convulsionado. O próprio presidente deu início ao processo, quando concedeu uma desastrada e inoportuna entrevista em que declarava que o novo estádio do Grêmio, a Arena, não era do clube. Depois disso, outro dirigente, Remi Acordi, disse que o técnico Vanderlei Luxemburgo recusara três grandes jogadores cujos nomes estavam no "cofre" para serem contratados pela nova administração. Luxemburgo negou o fato e o dirigente foi afastado. Hoje, duas notícias impactaram a torcida. A primeira foi a de que o vice-presidente de futebol. Omar Selaimen, havia pedido demissão. Ora, um ocupante de um cargo de tal relevância que pede demissão menos de um mês após a sua posse, e sem que as competições que o clube tem a disputar sequer tenham se iniciado, é um grave indício de crise. A segunda notícia aumentou ainda mais essa impressão. O zagueiro Vílson, que estava escalado como titular para o primeiro jogo da Pré-Libertadores contra a LDU, em Quito, foi mandado de volta ao Brasil depois de um desentendimento com Luxemburgo. Desde que a atual administração assumiu, praticamente, não há um dia sem que o Grêmio seja sacudido por notícias preocupantes. Até agora, a nova diretoria do Grêmio teve poucos acertos, e muitos erros. Fábio Koff elegeu-se cercado por enorme confiança da torcida, mas não vem correspondendo a tamanha esperança. O clube parece estar vivendo um desgoverno, com o técnico extrapolando suas funções e tornando-se um presidente de fato. Onde deveria haver harmonia e foco para a busca de grandes conquistas, há uma série de desencontros, e uma usina geradora de conflitos.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A ditadura da felicidade

Dois colunistas, ambos do mesmo veículo de comunicação, a revista "Época", debruçaram-se, recentemente, sobre a obrigação de ser feliz que caracteriza os tempos em que vivemos. Com enfoques distintos e complementares sobre o assunto, Eliane Brum e Walcyr Carrasco discorreram sobre o fato de que a felicidade deixou de ser uma conquista, e tornou-se uma imposição. Alguém poderia perguntar o porquê resolvi escrever sobre um tema já abordado tão proximamente por outros. Justamente porque entendo que não é coincidência o fato de Eliane e Walcyr sentirem, quase ao mesmo tempo, a necessidade de abordar o assunto. Trata-se de algo perturbador em nossos dias, com severas consequências para a vida das pessoas. A felicidade é, em princípio, algo muito subjetivo e de definição imprecisa. Pode ser concebida de diferentes formas. Alguns podem entendê-la como sendo serena, outros a imaginam de forma mais intensa. Porém, atualmente, a felicidade é propagandeada como algo esfuziante, trepidante, excitante, com muita "adrenalina". A simplicidade e a singeleza não cabem nessa fórmula, visivelmente atrelada aos propósitos do consumismo. Somos bombardeados, diariamente, pela difusão da ideia de que, para ser feliz, é preciso adquirir roupas caras e aparelhos eletrônicos sofisticados, ter um bom carro, fazer muitas viagens, ter uma vida sexual movimentada. O fato de que os seres humanos não são todos iguais, e que suas expectativas e possibilidades diferem muito de um indivíduo para o outro, é solenemente ignorado pelos arautos da felicidade plena. Assim sendo, ou você corresponde ao perfil da felicidade espetacularizada, ou é visto como um fracassado. Outra consequência desse estado de coisas é que se mostrar triste ou infeliz tornou-se algo "cafona" e que necessita, até mesmo, ser combatido com medicamentos. Ora, a tristeza é tão inerente ao ser humano quanto a alegria. Não constitui, em si, uma patologia. No entanto, na sociedade consumista e infantilizada em que vivemos, somos tomados pela compulsão de buscar uma felicidade irreal, superlativa, carregada de euforia. Obviamente, o resultado dessa busca só pode ser uma enorme frustração, ou até mesmo, a depressão, já que não conseguimos corresponder a tão elevadas exigências. Na verdade, aqueles que tem boa saúde, paz interior, e possuem recursos para uma existência digna, não teriam alcançado a felicidade? Parece razoável entender que sim, mas para nossa sociedade consumista e individualista isto não é suficiente. Estamos submetidos a uma ditadura da felicidade que, paradoxalmente, nos torna mais infelizes. A felicidade é uma conquista, e como tal, pode ser alcançada por diversos caminhos, conforme as inclinações e aspirações de cada um. Não cabe em fórmulas prontas. Ser feliz é um direito, não uma obrigação.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O partido de Marina Silva

Há poucos dias, escrevi sobre a excessiva proliferação de partidos no Brasil, e de que descobrira a existência de mais um, o Partido Ecológico Nacional. Agora, cogita-se de que a ex-candidata a presidente Marina Silva, irá criar o seu próprio partido. Marina teve grande votação na última eleição presidencial, representando uma alternativa à polarização PT-PSDB, mas desentendeu-se com o partido pelo qual concorreu, o PV, e deixou a sigla. Afora ser mais um partido, num país que já os tem em excesso, a nova legenda, caso venha mesmo a ser criada, teria que tipo de proposição? Um partido precisa ter um ideário definido, uma orientação ideológica clara, não pode ser, apenas, um agrupamento de pessoas. O partido de Marina Silva, contudo, parece ser muito mais uma sigla constituída no culto à personalidade da ex-candidata. Marina Silva é uma figura humana e política admirável, mas um partido deve representar um conjunto de ideias e programas, não um séquito de admiradores de uma personalidade carismática. Alguém poderia dizer que Marina Silva criaria um novo partido porque nenhum dos já existentes atende às suas expectativas. Isso pode até ser verdadeiro, mas, caso ela viesse a ganhar uma eleição majoritária para um cargo executivo concorrendo pela nova legenda teria que, obrigatoriamente, realizar alianças com outras siglas, ou não conseguiria governar. Goste-se ou não, a política exige composições. Ninguém governa sozinho. Isso é ruim e bom, ao mesmo tempo. Ruim porque leva, muitas vezes, a coligações espúrias entre partidos sem maior afinidade entre si. Bom porque, com a necessidade de alianças entre partidos, não se corre o risco de uma só legenda empalmar o poder. Marina Silva poderia repensar sua ideia de criar mais um partido. Deveria levar suas bandeiras para um já existente, que se dispusesse a acolhê-las.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Escárnio

O futebol, há muito tempo, tornou-se uma "ilha da fantasia" Transformado num negócio milionário, paga quantias astronômicas para seus profissionais. Técnicos e jogadores embolsam, num único ano, ganhos que um trabalhador comum não consegue durante toda a sua vida profissional. Enquanto, no mundo real, pessoas se esforçam, estudam, se aprimoram, fazem cursos de graduação, especialização e doutorado e, ainda assim, auferem rendimentos modestos, na bolha fantasiosa do futebol um salário de, por exemplo, R$ 50 mil, é considerado baixo. Enquanto a Espanha contorce-se numa crise que faz com que 25% de sua população esteja desempregada, jogadores do Real Madrid e do Barcelona recebem fortunas a cada mês. No Brasil, um país de enorme desigualdade de renda, onde pessoas morrem nas filas dos hospitais, os salários do futebol também já atingiram níveis obscenos. Uma demonstração disso ocorreu com o técnico Mano Menezes, quando de sua recente demissão da Seleção Brasileira. Mano Menezes recebia um salário de R$ 517 mil mensais para treinar a Seleção. Ao ser demitido, recebeu da CBF cerca de  R$ 4,3 milhões.  Foram R$ 2,8 milhões pela rescisão de contrato,e R$ 1,5 milhão do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Tudo isso por um trabalho pífio, que resultou na mais baixa colocação da Seleção Brasileira no ranking da Fifa, 18º lugar, onde se encontra atualmente. Como explicar para alguém que trabalhe de sol a sol, sacrificando, muitas vezes, sua saúde e sua convivência com a família, e, mesmo assim, recebendo um salário minguado, que o técnico da Seleção, uma equipe que se reúne sazonalmente, ganhe tanto para exercer o seu ofício? Para se ter uma ideia, antes da última Copa do Mundo, em 2010, quando ainda era treinada por Dunga, a Seleção só realizou dois amistosos nos últimos oito meses antes do início da competição. Eis aí o emprego ideal, pois trabalha-se pouco, recebe-se muito e, mesmo que os resultados sejam insatisfatórios, se é recompensado com uma rescisão de contrato milionária. São muitos os interesses que gravitam em torno do futebol, e, por conseguinte, é numeroso o grupo de pessoas que se beneficia desse estado de coisas. Porém, algo precisa ser feito no sentido de moralizar essa atividade. O futebol é o esporte mais popular do mundo, mas nada justifica esses ganhos nababescos em contraste com a dura realidade dos cidadãos comuns. O que se verifica, hoje, no futebol, é um verdadeiro escárnio em relação aos que tem de, pelo esforço nos estudos e pelo trabalho duro, lutar intensamente para alcançar uma vida melhor.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Tendência imutável

A mudança é uma característica inerente ao ser humano. A vida é dinâmica, e o que hoje é de um jeito, amanhã será de outro. Nos tempos atuais, isso é, ainda, mais facilmente constatável, pois as mudanças ocorrem num espaço de tempo cada vez menor. No entanto, no Rio Grande do Sul, existe algo que é imune à ação do tempo, configurando uma tendência absolutamente imutável. Trata-se da preferência da imprensa esportiva pelo Internacional. Invariavelmente, a cada ano, o Inter é visto como em vantagem sobre o Grêmio, seu grupo de jogadores é considerado mais qualificado, suas contratações são tidas como melhores. Nem o fato de que os resultados de campo desmintam tais apreciações é levado em conta. Em 2013, não está sendo diferente. Nem bem o ano começou, e sem que as competições tenham se iniciado, o Inter, mais uma vez, é considerado como estando num estágio superior ao do Grêmio. As alegações são as de sempre, isto é, de que o Inter tem um grupo mais qualificado e que realizou melhores contratações. O fato, concreto, de que o Inter, nos dois últimos anos, teve resultados de campo pífios, é solenemente ignorado. Analisemos, então os dois pilares que sustentam a tese da superioridade do Inter sobre o Grêmio. A primeira é sobre a qualidade do grupo de jogadores, tida como superior. Em 2011 e 2012, o Inter ganhou, apenas, o Campeonato Gaúcho. Nas demais competições, de maior nível, teve um desempenho medíocre. Mesmo os Gauchões que venceu nesse período, foram ganhos sem brilhantismo. Em 2011, contou com a soberba do Grêmio, que, depois de ganhar o primeiro Gre-Nal da decisão, no Beira-Rio, achou que, no segundo jogo, no Olímpico, o título viria com facilidade, e se deixou surpreender. Em 2012, jogando no Beira-Rio contra o modesto Caxias, o Inter levou um "banho de bola" no primeiro tempo, o qual terminou com a vitória parcial do clube caxiense por 1 x 0, obrigando a entrada, no segundo tempo, de D'Alessandro, que estava sem condições clínicas de jogar, para virar a partida e obter o título. A participação do Inter, no ano passado, na Libertadores, foi modestíssima, ficando, na classificação geral, em 16º lugar entre 32 participantes. No Campeonato Brasileiro, competição em que os dois clubes tomaram parte, o Inter foi o 10º colocado entre os 20 disputantes, enquanto o Grêmio foi 3º colocado e lutou pelo vice-campeonato até a última rodada. A segunda alegação é de que o Inter, para 2013, fez melhores contratações do que o Grêmio. As contratações do Inter, feitas aceleradamente nos últimos dias, não incluem nenhum jogador de currículo vistoso. Pelo contrário, alguns tem uma trajetória profissional bem opaca. Nomes como Vítor Júnior, Caio, Bruno Peres e Hélder estão longe de ser entusiasmantes. Enquanto isso, o Grêmio trouxe jogadores como Dida e Cris, com passagens pela Seleção Brasileira principal em Copas do Mundo, William José, campeão sul-americano e mundial pela Seleção Brasileira Sub-20, e Alex Telles, grande revelação do Juventude, de apenas 19 anos. Mesmo assim, a imprensa esportiva do Rio Grande do Sul já vê o Inter saindo na frente do Grêmio. Tudo muda no mundo, o tempo todo. Menos a descarada preferência da imprensa esportiva gaúcha pelo Inter.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Tradicionalismo

Nos últimos dias, em uma rede social, tenho visto a postagem de textos com declarações de personalidades como Arnaldo Jabor e Faustão em que são feitos elogios aos gaúchos por serem diferenciados, autênticos e dotados de um grande amor por sua terra. Essa autenticidade e apego ao seu chão, segundo Jabor, não são vistas em outras unidades da federação. O cineasta e comunicador surpreendeu-se, especialmente, pelo fato dos gaúchos conhecerem o hino do seu Estado e o cantarem com fervor. As postagens com as afirmações simpáticas aos habitantes do Rio Grande do Sul logo ganharam vários compartilhamentos de pessoas orgulhosas de sua terra natal. Por outro lado, na edição de hoje do jornal "Correio do Povo", há uma entrevista com o tradicionalista Lídio César Carvalho Marques. Natural de Cachoeira do Sul, Lídio é patrão do Piquete Grito do Quero-Quero, de Porto Alegre. Na entrevista, Lídio refere-se às tradições do Estado como "sagradas". No entanto, curiosamente, define o tradicionalismo como um "vício" que o acompanha nas 24 horas do dia. Perguntado sobre qual o seu sonho, Lídio respondeu que seria "voltar no tempo", quando os bailes de CTG's reuniam as famílias e eram um local saudável de encontros. Disse, também, que sonha ver o Movimento Tradicionalista receber o mesmo apoio que as escolas de samba. Tenho evitado de tocar no assunto, pois sei tratar-se de um campo minado, já que o tal "tradicionalismo" tem milhares de adeptos que reagem furiosamente a qualquer crítica que se faça ao movimento, mas não vou fugir da raia. A exaltação da "autenticidade" do povo do Rio Grande do Sul, de sua "singularidade", já extrapolou todos os limites do razoável. Em jogos de futebol em Porto Alegre, o Hino Nacional foi ignorado pelo público, que abafou-o cantando o Hino Rio-Grandense, uma atitude incivilizada e absurda. Cada vez mais, o Rio Grande do Sul se fecha em si mesmo, numa campanha de autopromoção delirante e descabida, que em nada contribui para o desenvolvimento do Estado. O "sonho" de Lídio Marques, de ver o tradicionalismo receber o mesmo apoio que as escolas de samba, revela o caráter sectário, preconceituoso e discriminador do movimento. Lídio finge esquecer que, ao contrário dos "tradicionalistas", que desfilam e acampam no centro de Porto Alegre, os adeptos do Carnaval foram "brindados" com a construção de um sambódromo num lugar ermo e distante, certamente para que os mesmos, na sua maioria negros e pobres, não perturbassem o sossego da parcela mais privilegiada da sociedade local. Lídio, como todos os tradicionalistas, despreza outras manifestações culturais. Preocupa-se em "preservar" as tradições. Todo o discurso do movimento é pontilhado de termos como "preservação", "defesa", "respeito", em que os não adeptos são vistos como inimigos, dispostos a corromper suas "sagradas tradições". Sua penetração midiática é impressionante, ocupando espaços, permanentemente, nos meios de comunicação. Porém, o tradicionalismo gaúcho é uma grande mitificação. Afinal, que tanta "tradição" pode ter um Estado cuja povoação se deu muito depois da maioria das demais unidades da federação? Nada tenho contra o fato de que alguém goste de andar "pilchado" ou frequentar fandangos, mas daí a criar um movimento onipresente no dia-a- dia das pessoas, vai uma distância muito grande. A única coisa que tal movimento preserva é o atraso do Rio Grande do Sul. O que, verdadeiramente, fomenta, é um insidioso e estúpido sentimento separatista em relação ao resto do país. Aquele que exalta em demasia suas supostas qualidades é porque nutre um sentimento íntimo de inferioridade em relação aos outros. O culto exagerado às "tradições" nada traz de benéfico para o Rio Grande do Sul, só o mantém em descompasso com a realidade.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Constrangimento

A vida do torcedor do Grêmio não tem sido fácil nos últimos 12 anos. Depois do título da Copa do Brasil de 2001, o Grêmio não obteve mais nenhuma conquista de expressão e só ganhou três campeonatos gaúchos. Nesse período, o clube enfrentou, ainda, o seu segundo rebaixamento para a segunda divisão. Não bastasse isto, volta e meia a diretoria do clube, sejam quais forem os seus integrantes, comete erros patéticos, submetendo o torcedor ao escárnio dos rivais. A anunciada utilização do Olímpico para a realização de dois jogos do Campeonato Gaúcho se insere nesse contexto. O Gre-Nal do dia 2 de dezembro, pela última rodada do Campeonato Brasileiro de 2012, foi anunciado como o derradeiro jogo do estádio. Houve intensa comoção pelo fato, com repercussão, até, no resultado de campo, pois o Grêmio, temeroso de perder o último Gre-Nal da história do Olímpico, jogou com excessivos cuidados defensivos, e empatou em 0 x 0, o que lhe custou a perda do vice-campeonato brasileiro e a classificação direta para a fase de grupos da Libertadores. Agora, sob a alegação de quer preservar o gramado da Arena para o jogo do dia 30 de janeiro, contra a LDU, pela Pré-Libertadores, o Grêmio irá jogar mais duas vezes no Olímpico. O fato é injustificável. Mesmo que o interesse seja preservar a grama da Arena para um jogo decisivo, o clube não poderia expor o seu torcedor dessa maneira. Ele foi feito de bobo e tornou-se alvo das gozações dos adversários. Trata-se de mais uma evidência de que a abertura da Arena foi feita de modo precipitado, mas isto só ocorreu porque o ex-presidente Paulo Odone queria ter a primazia de inaugurar o estádio, o que era mais que compreensível, já que foi o idealizador e construtor do mesmo. O erro esteve na falta de diálogo entre a diretoria que saía e a que foi eleita, que, dada a vaidade extremada e a inimizade entre Odone e Fábio Koff, não permitiu um entendimento entre as partes que evitasse todos estes transtornos. A verdade é que, até agora, a administração de Fábio Koff como presidente é uma rotunda decepção. Nenhum jogador de grande nível foi contratado e o clube tem pagado "micos" por desacertos administrativos. O único sentimento que a nova diretoria do Grêmio tem ensejado ao torcedor é um tremendo constrangimento.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Uma profusão de partidos

Entre os tantos problemas que afetam a atividade política no Brasil está a exagerada proliferação de partidos. Num país em que os eleitores pouco se importam com as siglas, preferindo, equivocadamente, votar "na pessoa", os partidos surgem aos magotes. Hoje, por exemplo, descobri a existência do Partido Ecológico Nacional. Ora, já temos, no país, o Partido Verde. Para que, então, um partido ecológico? Por sinal, ao conhecer alguns dos seus  integrantes, no espaço destinado aos partidos, na televisão, nas quintas-feiras, deu para perceber que a nova sigla não prima pela qualidade de seus quadros. O discurso "ecológico" não tinha nenhuma profundidade e se misturava com outros temas como a "segurança da família brasileira". Na verdade, partidos desse tipo não tem futuro. Caracterizam-se pela falta de eleitores, o que resulta numa baixa representação nas casas legislativas. Um partido tem de ter um espectro ideológico claro, de esquerda ou de direita, e, a partir daí, estabelecer seus propósitos. Partidos com uma pauta específica são muito limitados no seu campo de ação. Afora isso, são tantas as demandas sociais que, se para cada uma delas, surgisse uma nova sigla, o número de partidos não pararia de crescer, gerando uma confusão cada vez maior para o eleitorado. O Brasil já tem partidos demais. Muitos poderiam fechar, pois ninguém sentiria falta deles. O que o país precisa é de partidos comprometidos com o interesse público, com um ideário claro e definido. Infelizmente, isso, hoje, não passa de uma utopia.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Agressão ao bom senso

O estádio Beira-Rio está, novamente, com suas obras de reforma paralisadas. A razão, desta vez, é uma greve dos operários, que reivindicam melhores salários. O Beira-Rio já teve suas obras paradas durante 10 meses por desacertos entre o Inter e a construtora Andrade Gutierrez, situação que só foi resolvida com a intervenção da presidente Dilma Rousseff que, alegando sua condição de torcedora do clube, dispôs de seu precioso tempo para tratar da questão, pressionando a empreiteira. Por força da lentidão do processo de reforma do estádio, Porto Alegre ficou de fora da Copa das Confederações, que será realizada no meio do ano. O Beira-Rio precisa ser entregue pronto em dezembro e, até o momento, suas obras não se aceleravam, pois o estádio, absurdamente, continuou a sediar jogos. Justamente agora, quando o Inter deixará de jogar no estádio para que a reforma se intensifique, surge a greve dos operários. Porém, este era um transtorno evitável. Bastava que as autoridades deixassem de lado qualquer interesse de outra ordem e optassem pela racionalidade, indicando a Arena do Grêmio como o estádio de Porto Alegre para a Copa do Mundo de 2014. A Arena é um estádio novo, construído inteiramente dentro das normas da Fifa, e já foi inaugurada. Não fosse a esdrúxula opção pelo Beira-Rio e Porto Alegre poderia, até mesmo, sediar jogos pela Copa das Confederações. Repito o que já escrevi anteriormente, isto é, não aceito o argumento de que, quando a Fifa designou as cidades que sediariam jogos da Copa, a Arena era apenas um projeto. Um estádio inteiramente novo leva pouco mais de dois anos para ser erguido, e o Brasil foi designado como sede da Copa do Mundo em 2007, ou seja, sete anos antes da data de realização da competição. Uma prova de que essa alegação não é válida é o fato de que o Itaquerão, estádio do Corinthians que sediará os jogos de São Paulo na Copa, não existia nem como projeto quando da escolha do Brasil como sede. O escolhido era o Moruimbi, e a recusa do São Paulo em aceitar as exigências da Fifa para a reforma do estádio resultaram na construção do Itaquerão como saída para o impasse. Ainda há tempo de se corrigir a agressão ao bom senso que foi a escolha do Beira-Rio como um dos estádios da Copa. Basta indicar a Arena do Grêmio em  seu lugar.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A volta do Big Brother

Hoje, começará mais uma edição do "Big Brother Brasil", a 13ª. Por que me ocupo desse assunto? Não é para pedir, como fazem muitos nas redes sociais, para que o programa seja retirado do ar, nem incentivar pessoas para que participem de campanhas desse tipo. Considero que ninguém é obrigado a assistir o que não lhe agrada. Basta trocar de canal, ou desligar o televisor. Por sinal, é o que faço, já que não acompanhei nenhuma das 12 edições do programa até aqui. O que me intriga é o porquê de o "Big Brother" despertar tamanho interesse da audiência. Seu conteúdo é oco, nada dele se extrai. Várias pessoas ficam confinadas numa casa durante três meses, sem nada fazer de relevante ou interessante, num "jogo" bizarro em que o vencedor leva um prêmio de R$ 1,5 milhão. Claro, há a busca da celebrização instantânea, que rendeu ganhos para alguns. Grazielle Massafera, por exemplo, mesmo sem vencer a edição de que participou, tornou-se atriz da Rede Globo e casou-se com um dos seus galãs. O ganhador da edição em que ela participou, Jean Wyllis, homossexual assumido, elegeu-se deputado federal e é um defensor da causa gay no Congresso Nacional. Porém, ainda que ocorram exemplos como os citados, a maioria das "celebridades" reveladas pelo programa logo cai no esquecimento. Não consigo entender o que faz alguém querer espiar o que acontece dentro da tal casa. Toda vez que me dispus a ficar por alguns minutos observando o que acontecia na casa, nada constatei. A única sensação que o "Big Brother Brasil" me desperta é um enorme aborrecimento. Há os que espiam para ver o que "rola" sob os edredons, agindo como um voyeur televisivo, afinal sexo é algo que sempre mobiliza as pessoas. No entanto, mesmo esses momentos picantes não salvam o programa da sua vacuidade. Durante os próximos três meses, a casa do "Big Brother" vai magnetizar a atenção de milhões de pessoas em todo o Brasil. Sem que, racionalmente, se possa entender o porquê.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Rotina

Pela quarta vez, e de forma consecutiva, Messi foi escolhido o melhor jogador do mundo. Assim, torna-se o único jogador a obter esse feito por quatro vezes. Até agora, Messi dividia a honraria de ganhar o prêmio de melhor do mundo por três vezes com Platini, Ronaldo, Zidane, Cruyjff e Van Basten. Tudo indica que Messi ainda vá ganhar esse prêmio por muitos anos. Em 2012, seu desempenho foi excepcional. Fez 91 gols em 69 jogos, superando o alemão Gerd Müller, até então recordista de em único ano, que havia marcado 85 vezes em 1972. Não há quem possa, no momento, superá-lo. Cristiano Ronaldo é muito bom, e até já ganhou o prêmio uma vez, mas Messi é superior. Seu repertório de jogadas é mais amplo do que o de Cristiano Ronaldo. Ambos são grandes artilheiros, mas Messi tem marcado mais gols. Neymar é mais jovem que os dois, mas ainda parece distante de obter um grau de rendimento que lhe permita concorrer com eles à condição de melhor do mundo. O prêmio dado a Messi tornou-se uma rotina, que parece longe de acabar. Nas demais premiações da Bola de Ouro da Fifa, a americana Amy Wambach foi escolhida a melhor jogadora feminina, Vicente Del Bosque, da Seleção da Espanha, o melhor técnico, e a sueca Pia Sundhage, da seleção dos Estados Unidos, a melhor técnica de futebol feminino, concorrendo contra dois homens. A brasileira Marta, que já ganhou o prêmio de melhor jogadora do mundo em cinco oportunidades, mais uma vez, ficou entre as três finalistas, mas a exemplo do ano passado, não venceu. Os prêmios, em geral, pareceram bastante justos, com exceção do gol mais bonito do ano. Entre os três finalistas, justamente  o menos bonito foi o vencedor. O gol escolhido, do eslovaco Stoch, do Fenerbahce (TUR), foi belíssimo, mas plasticamente inferior ao de Falcão Garcia e, principalmente, ao de Neymar, que merecia ter ganho pelo segundo ano consecutivo. O prêmio honorífico da Fifa concedido a Franz Beckenbauer fez justiça a uma das mais brilhantes trajetórias do mundo do futebol, já que ele alcançou êxito como jogador, técnico e dirigente. Enfim, foi uma cerimônia ágil e enxuta que, com exceção do gol mais bonito, fez justas premiações.

domingo, 6 de janeiro de 2013

O país da impunidade

Nos últimos dias, as redes sociais e a imprensa tem demonstrado a inconformidade de algumas pessoas com  o grau de impunidade que impera no país, em função do fato de que José Genoíno, um dos condenados do julgamento do mensalão, tomou posse como deputado federal, e de que Carlinhos Cachoeira e Duda Mendonça, também envolvidos com malfeitos políticos, festejaram o Revéillon em mansões no litoral da Bahia. A chiadeira é até procedente, pena que seja seletiva. Os que atacam Genoíno e Duda o fazem por que um é parlamentar do PT e o outro foi marqueteiro de campanhas do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Os mesmos que gritam, agora, contra a impunidade, são os que desejam colocar uma pedra em definitivo sobre os crimes praticados pelo espúrio golpe militar de 1964. Nem mesmo a observância de que Uruguai e Argentina puniram seus militares golpistas os faz mudar de ideia. Dizem que o país tem de andar para a frente e esquecer o passado, de que a anistia foi para os dois lados, e de que punições aos artífices da ditadura seriam revanchismo. Portanto, a indignação que se observa no, momento, com a impunidade no país, é bastante singular. Pede-se a punição drástica de quem está no espectro político oposto dos reclamantes, mas nada se solicita para os responsáveis pelo mensalão tucano, para quem vendeu patrimônio público em troca de moedas podres, ou, ainda, para quem comprou parlamentares a fim de instituir a reeleição para presidente da República. Em relação a tais fatos e ás atrocidades perpetradas pelos golpistas de 1964, total silêncio. No Brasil, até a indignação contra a impunidade é um jogo de cartas marcadas.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Guiñazu encerra seu ciclo

Ontem, o volante Guiñazu, do Inter, anunciou sua saída do clube, onde chegou em 2007. Nesse período, Guiñazu ganhou vários títulos, sendo o mais expressivo deles o da Libertadores de 2010. Seria apenas um fato corriqueiro no futebol, não fosse o volante um jogador tão controvertido. Os torcedores do Inter logo o   alçaram à condição de ídolo, enxergando em Guiñazu um símbolo de raça e combatividade, um jogador que "não perde a viagem", não recusa divididas. Os torcedores adversários o viam como alguém que abusava das jogadas mais fortes. Embora reconheça sua entrega ao jogo, sua capacidade quase inesgotável de combate dentro da partida, não me incluo entre os admiradores de Guiñazu. Considero, inclusive, que os árbitros sempre foram demasiado condescendentes com sua forma de jogar, não lhe aplicando as punições devidas. Numa de suas tiradas ferinas, o cronista Paulo Santana chegou a definir Guiñazu como um jogador que deveria ser expulso pelo árbitro antes mesmo da partida começar. De qualquer forma, Guiñazu já é passado. Deixou muitos torcedores chorosos com sua saída, mas seguirá sua carreira longe do Inter.Um dos tantos ícones de uma fase de vitórias do Inter, Guiñazu, ao sair, pode estar sinalizando não só o fim de um ciclo pessoal, mas do início de um período de transição no clube. As fases vitoriosas não duram indefinidamente. Por vezes, é preciso mudar para voltar a vencer. Com as despedidas, na mesma semana, de Bolívar e Guiñazu, dois veteranos, o Inter se encaminha para uma renovação que de há muito era recomendável, e que tornou-se imperativa.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A bola começa a rolar novamente

O futebol transformou-se num grande negócio e, dessa forma, o show não pode parar. Apenas 18 dias depois do Corinthians tornar-se campeão mundial no Japão, tivemos hoje o início da Taça São Paulo de Futebol Júnior, com incríveis 100 participantes divididos em 25 grupos de quatro clubes cada. Trata-se da mais prestigiosa competição de jovens do futebol brasileiro, e serve de aperitivo para o torcedor até que comecem os campeonatos estaduais, no final do mês. Assim, enquanto os profissionais não retornam aos jogos, os garotos abastecem a grade das emissoras de tevê a cabo e exibem seu futebol para os caçadores de talentos. Mesmo sendo um apreciador do futebol, confesso que gostaria de um intervalo maior até que as competições fossem retomadas. Não há como dar conta de tamanho conjunto de jogos transmitidos pelas tevês aberta e fechada. Uma verdadeira overdose de futebol nos é ofertada, geralmente com a qualidade em desproporção com tanta quantidade. Um cronista de um jornal de Porto Alegre chegou a elogiar o fato de que na Inglaterra o futebol não para no período de festas, com jogos sendo realizados até no dia 1º de janeiro. Conforme o cronista, os jogadores não se queixam, pois estão com seus bolsos forrados, e a Inglaterra aproveita que os demais campeonatos estão paralisados, para tomar conta, sozinha, das transmissões de televisão, numa lição de marketing. Afinal, sustenta o jornalista, o futebol é um negócio. Lamento que essa visão sobre o futebol prepondere, hoje em dia. Preferiria ter um número bem menor de jogos para assistir, mas com maior qualidade. A massificação, em qualquer setor de atividade, não me agrada. Ao negócio, prefiro o espetáculo. O mundo pragmático dos tempos atuais, contudo, rechaça esse tipo de pensamento, tido como "romântico". Uma pena! Ainda não me recuperei do exaustivo acompanhamento dos jogos em 2012 e o futebol já está recomeçando. Tudo o que é demasiado, cansa. O futebol, mesmo sendo um esporte magnetizante, não é exceção.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Sem motivos para entusiasmo

O tempo voa, e Grêmio e Inter, após um mês de férias, fizeram, hoje, a abertura de suas atividades em 2013. No entanto, os torcedores de ambos os clubes tem pouco ou nenhum motivo para comemorar. No Grêmio, foram poucas as contratações, sem que qualquer delas empolgue o torcedor. Pelo contrário. Veteranos como Dida, de 39 anos, e Cris, de 35, vem se juntar a um grupo que já possui Zé Roberto, de 38 anos, Fábio Aurélio, de 34, Elano, de 31. Os demais contratados, Alex Telles e William José, embora jovens, são apenas apostas. Souza, titularíssimo e um dos melhores jogadores do time, ainda não teve sua permanência confirmada. Júlio César, lateral esquerdo de inegável qualidade, foi absurdamente dispensado. Na lateral direita, o clube segue tentando a manutenção de Pará, um jogador apenas razoável, sem qualidade suficiente para ser titular. As demais opções da posição, Tony e Edílson, são de preocupar o torcedor. O tão sonhado atacante de velocidade ainda não veio, se é que chegará. O Grêmio tentou durante um mês a contratação do chileno Vargas, do Nápoli, mas esbarrou na sua crônica falta de recursos, e o jogador deverá ir para o São Paulo. Aliás, a falta de dinheiro do Grêmio é algo que está comprometendo a vida do clube. Sabe-se que desde a falência da ISL, o Grêmio enfrenta problemas financeiros muito sérios. Desde então, o clube não ganhou mais títulos de relevância e só venceu três Campeonatos Gaúchos. Durante todo esse período, tentou agregar qualidade trazendo veteranos em fim de carreira, que vinham por preço módico, prática que continua a ser adotada pela nova administração e que, como já se viu, jamais trouxe  bons resultados. No Inter, o panorama é ainda mais desolador. O clube, durante o período de férias dos jogadores, não fez uma única contratação. Nem mesmo para a lateral direita, posição para a qual não há ninguém no grupo, foi trazido algum jogador. O Inter só terá competições mais importantes bem depois do Grêmio, por estar fora da Libertadores, o que, talvez, explique a sua lentidão em contratar. Porém, é uma postura equivocada, pois quando resolver ir ao mercado, os bons jogadores já terão sido adquiridos por outros clubes. Outro fator que pesará contra o Inter é que, pelo menos até setembro e, possivelmente, no restante do ano, terá de realizar seus jogos no Estádio Francisco Stédile, do Caxias, em Caxias do Sul, a 116 quilômetros de Porto Alegre. Jogando num estádio menor, e longe dos frequentadores habituais do Beira-Rio, o Inter, certamente, perderá muito de sua força. Como se vê, o ano não começa promissor para os torcedores de Grêmio e Inter. As frustrações dos dois clubes em 2012, infelizmente, tem tudo para se repetir em 2013.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A vida é buliçosa

Os feriadões de final de ano e as férias de verão fazem com que uma multidão invada as estradas e praias pelo país afora, em busca de lazer e diversão. O verão é, sem dúvida, a mais alegre das estações, conclama ao convívio. O calor próprio da estação estimula as pessoas a saírem da "toca" e buscarem a celebração da vida nos espaços coletivos. Claro, todo esse movimento gera transtornos, como estradas lotadas e, consequentemente, "engarrafadas", preços altos no comércio, e uma série de outras situações estressantes. No Rio Grande do Sul, particularmente, as queixas são ainda maiores, pois seu litoral tem poucas belezas naturais, muito vento, e a água, quase sempre, é escura e fria. Isso faz com que algumas pessoas sustentem a ideia de que o melhor, no verão, seria ficar em Porto Alegre, que, devido ao esvaziamento parcial pela migração para as praias, se tornaria uma cidade muito agradável. Conversa fiada. A capital do Rio Grande do Sul é insuportavelmente quente no verão. O calor de Porto Alegre é abafado e úmido, causando enorme mal-estar. Os defensores da esdrúxula tese dizem que, no verão, os restaurantes da cidade ficam vazios, o trânsito flui com facilidade, os cinemas também tem mais lugares disponíveis. Ora, e daí? Viver numa cidade grande implica entender que ela tem uma considerável população, o que leva a uma expressiva presença de público nos seus diversos espaços. Porto Alegre esvazia no verão por ser uma cidade que combina o já citado calor sufocante com a falta de praias, a ausência de belezas naturais e a  total inexistência de atrativos turísticos. Portanto, é natural que, chegado o verão, milhões de pessoas queiram fugir de tal quadro. Aos que fazem a ode ao silêncio e à tranquilidade da capital transformada, temporariamente, em cidade semi-abandonada, cabe lembrar que a vida é, necessariamente, frenética e buliçosa. Viver é expandir-se, não se recolher. Tanto é assim que o lugar mais calmo que existe é o cemitério, pois, lá, todos estão mortos.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Arcaísmo político

A cada novo ano que chega, nossas expectativas se renovam, e imaginamos que a troca de calendário seja capaz, por si só, de nos remeter a novos tempos. Há quem diga que o calendário é apenas uma convenção humana e, que por isso, não há sentido em dar a ele tamanho significado. Porém, seja como for, é algo mais ou menos inevitável associar um novo ano com a ideia de mudanças. Num setor da vida brasileira, contudo, isso não é levado em consideração. Na política do país, o passado insiste em voltar, impedindo uma desejável alteração de usos e costumes. Uma prova disso é o fato de que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) é o mais cotado para ser o próximo presidente do Senado. Trata-se de algo incompreensível, pois Calheiros ocupava o mesmo cargo em 2007 e renunciou após denúncias de corrupção que quase resultaram na sua cassação. Como pode alguém com esse histórico voltar a exercer o cargo? Convém lembrar que o atual presidente do Senado é José Sarney (PMDB-AP), outra figura nefasta da política brasileira. A política, no Brasil, resiste a qualquer tentativa de moralização. Não há protesto da opinião pública nem cobrança da imprensa que mudem esse quadro. Velhas e execráveis figuras se agarram ao poder e dele não desgrudam, transformando a política num balcão de negócios, visando cargos e vantagens. O Brasil vem evoluindo, e muito, em vários setores. Porém, no campo político, continua no mais absoluto arcaísmo. A provável volta de Renan Calheiros ao cargo de presidente do Senado é uma demonstração disso.