sábado, 14 de julho de 2012

A política como profissão

Uma das razões da atividade política ter se deteriorado no Brasil é que ela é vista não como uma forma de servir ao município, ao estado ou ao país, mas, sim, como uma carreira profissional. A função de vereador, por exemplo, não é remunerada na maioria dos países. No Brasil, a atividade de vereador não só é remunerada, como, muitas vezes, implica em salários bastante expressivos. Agora, mais um dado vem reforçar essa distorção. Entre os 191 candidatos a prefeito das capitais estaduais registrados no Tribunal Superior Eleitoral, 45 apontaram "deputado" como sendo a sua profissão. Ora, o cargo de deputado é exercido de forma eventual, mesmo que por várias legislaturas. Antes de se eleger, a pessoa terá tido, por certo, uma atuação profissional em qualquer outra atividade e que, inclusive, lhe terá proporcionado a condição de candidatar-se. Mesmo que os candidatos em questão estejam há muito tempo afastados de suas atividades laborais originais, apontar a função de deputado como profissão dá a dimensão de como a política é encarada hoje no país. Ser político virou uma carreira, e das mais rentáveis. Daí o porquê de tantos gastos milionários de campanha, tantas coligações estapafúrdias entre partidos de perfis antagônicos. Uma vez eleitos, os políticos passam a brigar para indicar seus apaniguados para altos cargos em em empresas e orgãos estatais. As questões que afligem o país, os problemas que transtornam a vida do eleitor, acabam ficando em segundo plano, enquanto os "representantes do povo" se engalfinham numa disputa por cargos e, principalmente, verbas. A política é uma atividade "meio" e não uma finalidade. Transformá-la em profissão é rebaixar a sua dignidade, aviltar os seus propósitos, reduzir sua importância, fraudar os eleitores.