quinta-feira, 30 de maio de 2013

Classificação dramática

Por pouco o Atlético Mineiro não foi eliminado da Libertadores, como os demais clubes brasileiros. Empatou, em 1 x 1, com o Tijuana, do México, hoje à noite, no Independência, resultado que lhe era suficiente, em razão do 2 x 2 no primeiro jogo, pelo critério do maior número de gols marcados fora de casa. A classificação, no entanto, foi dramática. O Atlético teve contra si um pênalti aos 45 minutos do segundo tempo! Porém, o goleiro Victor defendeu a cobrança e levou o Atlético para as semifinais da Libertadores. A eliminação, nessas circunstâncias, seria muito cruel para o clube brasileiro, que foi o primeiro colocado entre todos os participantes da competição na fase de grupos. Por intermináveis minutos, antes que o pênalti fosse batido, os fantasmas de sempre se abateram sobre os atleticanos, ou seja, a fama do clube ser um "cavalo paraguaio", a sensação terrível de, mais uma vez, morrer na praia. Caso fosse eliminado, o Atlético, que já deixou o título do Campeonato Brasileiro escapar em 2012, depois de um início empolgante, certamente mergulharia numa crise. Seu time, provavelmente, seria desmanchado, e seu técnico, demitido. O drama teve um final feliz, contudo, e, agora, faltam quatro jogos para o Atlético alcançar o título da Libertadores. Tecnicamente, é o melhor time entre os semifinalistas e, depois do susto de hoje, dificilmente se deixará atemorizar por qualquer outra coisa. A impressão que se tem é que o Atlético Mineiro só não será campeão da Libertadores se perder para si mesmo.

Impunidade

O Brasil costuma ser caracterizado, por usa própria população, como o país da impunidade. Não é por acaso. A Justiça brasileira tem por hábito ser rigorosa com os "ladrões de galinhas" e extremamente leniente com criminosos que pertençam a extratos superiores, economicamente, da sociedade. Para quem pode pagar bons advogados, os recursos jurídicos disponíveis com o intuito de procrastinar ou mesmo evitar definitivamente a devida punição de um réu parecem infindáveis. O resultado disso é o sentimento, disseminado entre os brasileiros, da ineficácia da Justiça como meio de se alcançar a reparação de crimes e ilicitudes. Nem mesmo diante da maior tragédia já ocorrida no Rio Grande do Sul esse quadro se alterou. O incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, ocorrida no dia 27 de janeiro, que deixou um total de 242 mortos, causou comoção em todo o país e repercutiu, inclusive, no exterior. Foi resultado de um conjunto de irresponsabilidades e omissões. Os diversos implicados, em maior ou menor grau, na tragédia, foram sendo liberados de qualquer responsabilização, restando quatro pessoas que foram presas. Os quatro presos foram os proprietários da boate, Elissandro Spohr, o Kiko, e Mauro Hoffmann, e Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão, vocalista e produtor, respectivamente, do grupo "Gurizada Fandangueira". Ontem, numa atitude criticada pelo Ministério Público e que gerou revolta entre os familiares das vítimas, os quatro réus foram postos em liberdade pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. Com a medida tomada, é grande o risco de que eles fujam do país. O promotor criminal de Santa Maria, Maurício Trevisan, discordou da posição do Tribunal de Justiça. Afora temer a fuga dos réus, Maurício Trevisan disse que se os desembargadores decidiram pela sua liberação por entenderem que não há mais risco para a ordem pública e clamor social, precisam ir a Santa Maria. Mesmo sem ir até lá, os desembargadores puderam ter uma ideia da repercussão da sua decisão assim que a votação foi encerrada. Familiares das vítimas que estavam presentes à votação manifestaram a sua revolta. Ao deixar o local do julgamento, Jáder Marques, advogado de Elissandro Spohr, o Kiko, foi atingido por um tapa desferido pelo familiar de uma das vítimas. O presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Adherbal Ferreira, deixou o tribunal chorando e afirmou: "Eu pensei que aqui houvesse justiça, mas me enganei feio". A dor e a revolta diante de tão injusta decisão não é só dos familiares das vítimas, é de todos os brasileiros que se comoveram com a tragédia de Santa Maria. Como sempre, os desembargadores justificaram seus votos com tecnicalidades jurídicas, alegando estarem na estrita observância do que determina a lei. Pois se é assim, a lei é falha, por ser permissiva e promover a impunidade. Nada pode ser pior para um país do que a convicção firmada entre seus habitantes de que o Poder Judiciário é ineficiente e, pior do que isso, injusto em suas decisões. Os brasileiros já tem essa percepção há muito tempo. A liberação dos quatro réus do incêndio da boate Kiss veio reforçar essa imagem. Infelizmente, por fatos como o ocorrido ontem, o Brasil seguirá sendo conhecido, aqui e lá fora, como o país da impunidade.