sexta-feira, 5 de julho de 2013

Torcida única

O futebol sempre foi reconhecido como o esporte das multidões. Nenhuma outra prática esportiva mobiliza tantos aficionados. Ao longo do tempo, acompanhamos a construção de imensos estádios, no mundo inteiro. Os pobres conseguiam assistir aos jogos, sem ferir o seu bolso. Porém, de uns tempos para cá, esse quadro começou a ser mudado. Os estádios foram se tornando mais confortáveis, mas com uma capacidade  de público bem menor, o que eleva o preço dos ingressos e afasta os menos aquinhoados financeiramente da possibilidade de ir aos jogos. Os clássicos, partidas que, pela rivalidade, faziam com que grandes estádios se dividissem quase meio a meio entre as duas torcidas, hoje tem a maior parte dos ingressos reservados para o mandante, e algumas poucas entradas para o visitante, como vem acontecendo nos Grenais. Na Argentina e em Minas Gerais, já se adotou a fórmula do clássico só com a torcida do mandante, e essa medida, estúpida e anti-futebolística, foi agora sugerida pelo comandante do Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar, coronel Kléber Goulart, que quer adotá-la no Gre-Nal do dia 4 de agosto, pelo Campeonato Brasileiro, que será disputado na Arena. Frequento estádios há 42 anos, e, nesse período, assisti dezenas de Grenais. Nesses jogos, a torcida visitante tinha à sua disposição de 30% a 40% dos lugares do estádio. Atualmente, Grêmio e Inter reservam apenas dois mil ingressos para os visitantes quando se confrontam. Pois eis que, com a sugestão do coronel Kléber Goulart, o que era ruim tende a ficar pior. Um Gre-Nal de torcida única é algo que não faz o menor sentido, é um ato lesa-futebol. A alegação para a adoção de tão estulta ideia, é claro, é a de prevenir atos de violência. Por que, de uma hora para outra, as autoridades responsáveis se sentem sem condições de garantir a segurança em jogos de futebol? Durante décadas, tivemos clássicos com 70, 80, 100 mil pessoas, e até mais, nos estádios de todo o Brasil, em que as pessoas se aglomeravam em arquibancadas de cimento, sem lugares marcados, sem que nenhuma tragédia acontecesse. Agora, mesmo em estádios encolhidos, com preços altos que barram a frequência dos mais carentes, estabeleceu-se que um clássico com as duas torcidas no estádio é um risco. Chegaremos ao ponto em que as autoridades de segurança proporão que as pessoas não mais assistam aos jogos nos estádios, fazendo-o só pela televisão. Tomara que a sugestão do coronel não venha a ser acatada. Ela gera desequilíbrio entre os times que se confrontam, pois o visitante fica sem nenhum torcedor a lhe apoiar, e atenta contra o direito das pessoas de frequentarem um espetáculo. Em outra oportunidade, já deixei bem claro que não aceito o protagonismo da Brigada Militar nessas situações. Ela não tem de sugerir nada, pois isso foge a sua alçada e esfera de competência. Como servidores públicos que são, pagos com dinheiro do erário, é obrigação dos integrantes da Brigada Militar garantir a segurança da sociedade. Servidor, acima de tudo, cumpre ordens, não lhe cabe interferir na organização dos espetáculos. O Gre-Nal de torcida única não pode ser instituído. Só o defende quem nada entende de futebol. O Batalhão de Operações Especiais que trate de cumprir com as suas obrigações, e não se meta onde não é chamado.