segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A aposta no pior

O ambiente político no Brasil está tenso e deteriorado. Ocupantes de importantes cargos, como é o caso do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), veículos de imprensa, e frequentadores de redes sociais, flertam, abertamente, com o golpismo. Muitos defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff, num claro desrespeito à decisão das urnas. A apuração de crimes de corrupção é necessária, evidentemente, mas a interminável Operação Lava Jato mantém o país mergulhado num rol imenso de denúncias, suposições, acusações, delações, revelações, que ocupam a maior parte do noticiário. Enquanto isso, o país parece em segundo plano. Diante do quadro que está colocado, tentemos imaginar a situação na sua face mais radical. O que aconteceria se Dilma Rousseff fosse deposta de seu cargo? A atual oposição assumiria o poder, ganhando no "tapetão" o mandato que as urnas lhe negaram? Caso isso ocorra, com o país vivendo uma forte contração econômica, os novos ocupantes do poder seriam capazes de levá-lo a um novo estágio de prosperidade, de modo imediato? Tudo se resolveria como numa mágica? Obviamente, não. A defesa do golpismo é fruto de um modo deturpado de se fazer política, onde interesses pessoais e paroquiais se sobrepõem às mais altas aspirações da cidadania. O governo precisa se fortificar, não pode permanecer cerceado, mas mesmo que, na pior das hipóteses, se arrastasse enfraquecido até o final do mandato de Dilma, isso seria melhor do que a ruptura causada por um impeachment. O golpe não serve à ninguém, nem mesmo aos que o defendem. O melhor a se fazer é respeitar a normalidade institucional, com a continuidade do governo. Mudança de governo se dá é pelo voto. A aposta no pior, agravando um quadro difícil para se adonar do poder, é  irresponsável. Na tentativa de beneficiar alguns, acaba por vitimar a todos.