quinta-feira, 24 de julho de 2014

Confissão macabra

O ex-delegado Cláudio Antônio Guerra, do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) do Espírito Santo, envolvido em assassinatos cometidos durante a ditadura militar, revelou, ontem, que carregou em seu carro, para serem incinerados, os corpos de 13 mortos por agentes da repressão. Guerra, em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, reconheceu 19 mortos pela ditadura, e que 13 deles foram carregados por ele para incineração na usina de açúcar de Cambaíba, em Campos (RJ). O ex-delegado disse, ainda ter sido o autor do assassinato de um dos 13, afora ter matado mais cinco ou seis pessoas. Ele contou que carregou as vítimas no porta-malas de seu carro, entre 1975 e 1977, e se diz arrependido, embora afirme que via os corpos com frieza na época dos assassinatos. Diante de mais essa confissão macabra, é inadmissível que existam pessoas contrárias á punição dos agentes da ditadura. O argumento de que era uma "guerra" que fez vítimas de dois lados é uma empulhação cínica. Enquanto uns lutavam pela restituição dos princípios democráticos, outros torturavam e matavam em nome de um combate à "ameaça comunista", uma falácia que visava justificar o espúrio golpe militar. A confissão de Cláudio Guerra, que segue por aí, solto e impune, é um acinte aos que tiveram familiares perseguidos e assassinados pelo regime de exceção. Também é uma evidência a mais de que temos de seguir o exemplo de nossos vizinhos, Uruguai e Argentina, que puniram os artífices de suas ditaduras militares.