quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A resistência do Brasil arcaico

Um dos estados mais pobres do país, o Maranhão tem sido destaque nas notícias dos últimos dias. Primeiramente por uma onda de violência que inclui ônibus incendiados e atrocidades cometidas no seu sistema prisional, como a degola de detentos. Depois, por um edital para a compra de artigos para a despensa da cozinha da governadora Roseana Sarney. No edital constam, entre outros itens, 200 quilos de bacalhau do Porto de primeira qualidade, 2,5 mil quilos de camarões de diversos tipos, 180 quilos de salmão fresco e defumado, 80 quilos de lagosta fresca, 1,5 mil vidros de azeite de oliva português e espanhol, 750 quilos de patinhas de caranguejo frescas, castanhas portuguesas, e geleias francesas de morango, pêssego e cassis. Cobrada sobre a onda de violência que assola o estado, a governadora garante estar tomando as medidas necessárias para combatê-la, e que ela é consequência de o Maranhão estar "mais rico". O Maranhão é um dos exemplos de um Brasil arcaico que teima em não desaparecer. O país já atingiu um alto grau de desenvolvimento em vários níveis, mas algumas de sua unidades federativas ainda seguem imersas no atraso, entregues ao domínio de clãs políticos poderosos. No caso específico do Maranhão, há décadas o estado é dominado pela família Sarney. Enquanto o Maranhão e seus cidadãos chafurdam na pobreza, os membros da família Sarney perpetuam seu poder, que exercem de forma praticamente absoluta. Casos mais ou menos semelhantes ocorrem em Alagoas, Bahia e Ceará, com as famílias Collor, Magalhães e Gomes, respectivamente. O Brasil é um país de dimensões continentais e, por consequência, com grandes discrepâncias entre suas diversas regiões. O economista Edmar Bacha chegou a cunhar uma expressão, que ficou consagrada, definindo o país como uma "Belíndia", uma mistura de Bélgica com Índia, ou seja, uma pequena parte com alto padrão de vida e outra, bem maior, com imensos bolsões de pobreza. O fato é que existe um Brasil renitente, que parou no tempo, que resiste a se modernizar, em que o poder ainda é exercido de maneira absolutista, onde a democracia e a transparência são conceitos inaplicados. Com um senso de sobrevivência política extremamente desenvolvido, os artífices desse quadro estabelecem acordos com toda e qualquer corrente que lhes garanta a perpetuação nas esferas do poder. Enquanto não forem, definitivamente, varridos da cena política brasileira, o país segurá dividido entre o alto grau de desenvolvimento do Sul e do Sudeste, e o atraso das demais regiões, que, no caso do Nordeste, é quase medieval.