sábado, 4 de maio de 2013

A excomunhão do padre

Vivemos tempos muito interessantes na área do comportamento. Ao mesmo tempo que percebe-se a insurgência de um execrável neo-conservadorismo, com toda a sua carga de preconceito, falso moralismo, hipocrisia e medievalismo, as forças transformadoras da sociedade não agem mais com passividade diante das tentativas de opressão. Esta é uma guerra que está perdida para os defensores do atraso. O mais novo round dessa luta apresenta a excomunhão de Roberto Francisco Daniel, o padre Beto, de 48 anos, da diocese de Bauru (SP). A decisão de excomungá-lo se deu pela sua defesa da homossexualidade e de sua discordância em relação a dogmas da Igreja. Ousado em suas ideias, padre Beto admite, até mesmo a bissexualidade e relações paralelas ao casamento desde que com o consentimento das partes. São ideias arrojadas mesmo para quem não tenha abraçado o sacerdócio. No entanto, a excomunhão de padre Beto, que em outros tempos teria sido vista com naturalidade, talvez até com tentativas de linchamento do sacerdote por parte dos conservadores mais radicais, gerou uma corrente de solidariedade, por parte, principalmente, dos movimentos de apoio aos homossexuais, que incluiu a realização de uma passeata. Os setores historicamente oprimidos da sociedade perderam o medo. Antes agindo nas sombras, saem ás ruas, marcam posição. O inimigo é insidioso e persistente, mas empreende uma luta vã. A história não anda para trás. Não conheço a fundo a figura de padre Beto, portanto, não incorrerei no erro de superdimensioná-lo. Interessa-me menos sua pessoa em si, e, sim, a repercussão de sua excomunhão. Seja por que motivo for, uma excomunhão é algo extremamente drástico, e a sociedade já não aceita uma punição tão draconiana a quem apenas expôs suas ideias. Os tempos de trevas não voltarão jamais, para desconsolo dos que querem submeter os outros aos seus valores.