sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A desvalorização da vida

A vida é o bem supremo, o maior dentre todos os elementos valoráveis. Bem, pelo menos, deveria ser assim. Porém, nos tempos atuais, até mesmo essa dimensão ética aparentemente inabalável está sendo posta em xeque. Não se pode pensar de outra forma quando se fica sabendo da atitude de um casal australiano, divulgada, hoje, pela imprensa, marcada pela desvalorização da vida. Impossibilitado de ter filhos, o casal, utilizando-se de um agente, contratou uma mãe de aluguel, a tailandesa Pattharamon Janbua, de 21 anos. Ela recebeu US$ 11, 7 mil pelo procedimento. Com a constatação de que a inseminação resultara numa gravidez de gêmeos, o agente ofereceu US$1.673 pelo outro bebê. Foi constatado, então, que um dos fetos tinha síndrome de Down. O casal, com quem a mãe de aluguel nunca se encontrou, recusou-se a ficar com o bebê com síndrome de Down, e pediu que ela o abortasse. Pattharamon Janbua, que é budista, negou-se a abortar, por considerar que isso seria um pecado. Nascidos os bebês, um de cada sexo, o casal ficou apenas com a menina, que nasceu saudável. O menino, chamado Gammy, apresentava ainda, uma doença congênita no coração. A mãe de aluguel revelou que o agente não pagou US$ 2.341 mil do montante acordado. Ela ficou com o bebê doente, mas não tem dinheiro para pagar os custos da cirurgia de que ele necessita. Uma campanha está levantando fundos para ajudá-la. A campanha visa arrecadar US$ 150 mil. Em dez dias, mais de duas mil pessoas já doaram US$ 102 mil. A mãe de aluguel, ainda que não tenha, segundo seus valores, cometido um pecado, transgrediu as leis de seu país. A Tailândia só permite a barriga de aluguel caso um familiar se ofereça de boa vontade. Deixando de lado todos esses detalhes, vamos a questão ética a que me referi na abertura do texto. Como pode uma vida humana ser tratada de um modo tão frio? Despreza-se uma criança por ela ter problemas de saúde, como se fosse uma mercadoria defeituosa. A barriga de aluguel, quando envolve interesses financeiros, já é algo reprovável. Se, afora isso, inclui o descarte de um ser humano, torna-se, simplesmente, repugnante.