segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A demissão de Adílson Batista

Depois de treinar o time por apenas 11 jogos, o técnico Adílson Batista foi demitido pelo Santos. Adílson já tinha tido, em 2010, uma curta e fracassada passagem por outro grande clube brasileiro, o Corinthians. Vai ser difícil que, depois de dois insucessos consecutivos, o técnico continue a ser cortejado pelos grandes clubes. Adílson foi, como jogador, um grande zagueiro e um líder. No Grêmio, ficou conhecido como o "Capitão América", por ter sido o capitão do time que conquistou a Taça Libertadores da América de 1995, a segunda da história do clube. Porém, como técnico, até hoje, não se afirmou, o que dificilmente conseguirá. O próprio Grêmio foi o seu primeiro grande clube na função e seu desempenho esteve longe de ser bom. Com Adílson, o Grêmio escapou do rebaixamento no Campeonato Brasileiro de 2003 na última rodada. Em 2004, o clube foi eliminado pela Ulbra nas semifinais do Campeonato Gaúcho, o que ocasionou a saída do técnico. A melhor passagem de Adílson como técnico foi no Cruzeiro, onde permaneceu por cerca de dois anos. O técnico montou um time qualificado no clube mineiro, mas, nem mesmo lá, deixou de sofrer contestações. A torcida não o suportava e Adílson nada mais conseguiu além de títulos estaduais, tendo perdido uma Libertadores, para o Estudiantes de La Plata, cujo jogo decisivo foi no Mineirão. Escrevi, acima, que Adílson dificilmente se afirmará como técnico e, agora, explico o porquê. Trata-se de um técnico que reúne características comuns a outros profissionais da área que também colecionam insucessos. Tais características são a teimosia, afrontando o senso comum, o invencionismo, que resulta na adoção de esquemas táticos estapafúrdios, a preterição de jogadores mais qualificados por outros menos dotados, o mau humor e a impaciência no trato com a imprensa,, pela qual se julgam perseguidos. Alguém notou a semelhança dessas descrições com figuras como Celso Roth e Dunga? Pois é, não se trata de uma mera coincidência. Todos os três tem em comum serem considerados sérios e dedicados, fazem boas campanhas, mas não chegam a lugar algum. Não vale argumentar que Roth foi campeão da Libertadores pelo Inter, em 2010, pois só treinou o time nos quatro jogos finais. No Campeonato Brasileiro e no Mundial de Clubes, quando deveria confirmar seu trabalho, fracassou rotundamente. Dunga, por sua vez, pela Seleção Brasileira, seu único trabalho como técnico até hoje, fez excelente campanha nas eliminatórias e em competições como a Copa América e a Copa das Confederações, mas fracassou nas que realmente interessavam, as Olimpíadas e a Copa do Mundo. Adílson, Roth e Dunga são resultado da excessiva valorização que foi dada aos técnicos de futebol nos últimos anos. Durante décadas absolutamente secundários em relação aos jogadores, os técnicos passaram, de uma para a outra, a serem considerados gênios da estratégia. Isso foi bom para os seus bolsos, dada a valorização salarial que tiveram, mas não foi nada benéfico para o futebol. Um bom técnico nada mais deve ser do que um facilitador para que o time renda o máximo do seu potencial, não deve contrariar o senso coletivo, remando contra a maré. Não deve, também, bolar esquemas demasiado engenhosos, nem alterar a escalação a cada jogo. Deve fazer o mais simples, definir e fixar uma escalação e ter a consciência de que as verdadeiras estrelas são os jogadores. Infelizmente, grande parte dos técnicos de hoje não age assim. Encerro com uma história envolvendo o próprio Adílson Batista, quando técnico do Grêmio, para exemplificar o quão equivocada pode ser a postura de alguns técnicos. O relato foi feito pelo ex-dirigente do Grêmio, Carlos Josias, num programa de rádio. Diante da lesão de um titular, que o tirava do próximo jogo, todos esperavam que Adílson escalasse o seu reserva imediato. O técnico, no entanto, preferiu fazer uma improvisação, o que resultava numa mexida em outras posições do time, alterando sua estrutura. Espantado com a informação, Carlos Josias se dirigiu ao técnico e lhe perguntou se não seria mais lógico simplesmente colocar, no lugar do jogador lesionado, o seu substituto natural. Adílson concordou que sim, dizendo que isso era o óbvio que qualquer um faria se estivesse em seu lugar. Porém, acrescentou que, em seu trabalho, não se propunha a fazer o óbvio. Por atitudes como essa é fácil entender por que Adílson se indispõe com a torcida em todos os clubes nos quais trabalha e não consegue se tornar um técnico vencedor.

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