segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Conflito

Entre as várias consequências geradas pelo fim da bipolarização entre comunismo e capitalismo, com a queda dos regimes de esquerda entre o final dos anos 80 e início dos 90, uma das mais absurdas foi a tentativa de disseminar o conceito de que as ideologias tinham acabado. Como se fosse possível que, de uma hora para outra, todos os bilhões de seres humanos que habitam a Terra passassem a se moldar por um pensamento único. Ora, a própria definição de ideologia diz tratar-se de "maneira de pensar própria de um indivíduo ou grupo de pessoas". Decretar o fim das ideologias só seria possível se as pessoas deixassem de ser racionais, sendo movidas unicamente pelo instinto, semelhantemente a outros seres vivos. Assim não entendeu a grande imprensa, que, desde o fim da chamada "Cortina de Ferro" apregoou o fim do conflito ideológico e a prevalência, sem contestações, de idéias como o estado mínimo, as privatizações, a flexibilização das leis trabalhistas e tantas outras medidas tão ao gosto dos que se guiam pelos preceitos de direita. Pois eis que, em meio a aridez desse tipo de discurso, surge uma voz discordante e corajosa. O novo presidente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado Adão Villaverde (PT) diz que incentivará o embate firme de ideías entre deputados de situação  e oposição . Villaverde declarou que uma coisa que o incomoda muito na política gaúcha atual é a ideia de eliminar o conflito. O deputado afirma não temer o conflito e considera o fim dos embates políticos um ataque à democracia. Villaverde vai mais além e diz que uma sociedade sem conflito é amorfa e subordinada. Há muito tempo não se tinha conhecimenmto de declarações tão lúcidas e pertinentes feitas por um político. Adão Villaverde tem inteira razão. Não passa de mais um artifício das forças reacionárias da sociedade a ideia de que, em nome de pretensos interesses maiores da coletividade, se deva perseguir uma postura única. O próprio termo "parlamento", já demonstra que as casas legislativas não são meras proponentes e fazedoras de leis, mas também um local onde devem ser debatidas as questões mais importantes que envolvem o poder público e os cidadãos. No passado, inclusive, tivemos grandes tribunos que empolgavam as galerias com suas manifestações em plenãrio acerca das grandes questões políticas e sociais do país, estados e municípios. O desaparecimento de tais figuras é mais uma evidência do empobrecimento cada vez maior do nível da política praticada no país. Chega de buscar um só discurso. Passemos ao debate acalorado e produtivo, pois como disse, também, Villaverde," as opiniões opostas são as melhores coisas da democracia". Estou de pleno acordo.

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