quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Desfaçatez

Há um ditado popular que expressa que "não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe". Porém, é díficil vislumbrar, no horizonte, o fim de certos males brasileiros. A absolvição da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) do processo de cassação a que fora submetida, é um exemplo disso. O Brasil é um país, historicamente, dominado por elites predatórias, que usam o Estado e os poderes constituídos em favor de seus interesses. A prática da democracia ainda é muito recente no país, o que redunda numa população com baixo nível de politização e mobilização. Desde que o Brasil foi descoberto, castas privilegiadas usufruíram toda sorte de vantagens, em detrimento do restante da população. Não se muda um quadro como esse da noite para o dia. Hoje, o Brasil vive num regime democrático, com liberdade de imprensa e de expressão. Com isso, fatos que antes permaneciam ocultos da opinião pública, começaram a  ser revelados. A indignação com a corrupção e os malfeitos na atividade política ganharam grande dimensão na sociedade. Ocorre que quem está acostumado a se beneficiar do poder em proveito próprio não vai "largar o osso" tão facilmente. A consequência disso é o que se vê, hoje, no país. Os poderosos desafiam as denúncias da imprensa e às cobranças da opinião pública e continuam a exibir sua força, de forma cada vez mais acintosa. Diante da enxurrada de atos ilícitos em que são apanhados, não assumem a culpa, ao contrário, acusam a imprensa de perseguição e acenam com mecanismos que restrinjam sua liberdade de atuação. A absolvição de Jaqueline Roriz é mais um exemplo disso. Jaqueline foi apanhada recebendo dinheiro do mensalão do DEM, em 2006, fato que foi registrado num vídeo. O argumento que sustentou sua absolvição foi o de que, na época, ela ainda não era deputada federal. Seu advogado, José Eduardo Alckmin, disse que, caso Jaqueline fosse cassada, estaria sendo praticada uma "retroatividade punitiva" e o caminho ficaria aberto para ações de "perseguições políticas". Ficou estabelecido, a partir da decisão de hoje, que um parlamentar só pode ser acusado de ferir o decoro em razão de fatos praticados depois de ser eleito. Portanto, por mais escabrosas que sejam as atitudes de um parlamentar antes do exercício de seu mandato, ele não responderá por elas politicamente. Trata-se de um escárnio, um ultraje, que revela a certeza da impunidade por parte de quem age dessa forma. Vivemos um momento, no país, em que a sociedade se mostra cada vez mais revoltada com a sujeira do mundo político, mas em que os donos do poder fazem questão de mostrar a sua força, para sinalizar que não pretendem abrir mão de seus privilégios. Nessa disputa entre a indignação e a desfaçatez está sendo decidido o futuro do Brasil. Por enquanto, infelizmente, o descaramento ainda ganha por larga vantagem.

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