quarta-feira, 23 de março de 2011

A hora da verdade

Entre os tantos entraves para que se torne um país mais justo, o Brasil apresenta uma permanente tendência para varrer assuntos incômodos para baixo do tapete, adiando o esclarecimento de fatos da sua história. A idéia, defendida pelas forças retrógradas do país e por setores da grande imprensa, de que a anistia de 1979 pôs fim as questões envolvendo o asqueroso golpe militar de 1964, é um insulto à memória dos homens e mulheres que tombaram nos porões da ditadura, e também às suas famílias que, até hoje, em grande parte, não conseguiram localizar seus corpos. Não é possível que um governo chefiado por uma ex-militante, que sentiu na própria pele a violência e a torpeza dos monstros da ditadura, ainda tema a reação das Forças Armadas e de grupos conservadores do país. Uruguai e Argentina, países vizinhos que também sofreram com a iniquidade de uma ditadura militar, souberam encarar o passado de frente, punindo os artífices de tais movimentos. O Brasil precisa fazer o mesmo. Anistia não é sinônimo de impunidade. Não basta, apenas, localizar as ossadas das vítimas de uma ditadura bárbara e ignóbil. Mais do que isso, é preciso abrir os arquivos da época para todos os brasileiros e, acima de tudo, punir exemplarmente os golpistas e torturadores. Só assim, o país poderá dar esse episódio por encerrado e seguir em frente com sua história.
Caso contrário, o peso de uma injustiça inominável se abaterá sobre o Brasil indefinidamente.

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