segunda-feira, 7 de março de 2011

O autêntico e o midiático

A primeira noite de desfiles do Carnaval de 2011 no Sambódromo do Rio de Janeiro trouxe à tona, mais uma vez, uma divisão que se estabeleceu desde que o espetáculo se transformou num grande evento, de enorme repercussão em todo o país e até no exterior. De um lado está o carnaval de raiz, cultivado nos bairros onde as escolas de samba tiveram sua origem, com seus compositores e personagens históricos. De outro, o carnaval midiático, feito para causar impacto visual tanto para os julgadores do desfile quanto para o público da televisão, lançando mão de muito luxo e efeitos especiais cada vez mais criativos. Dessa forma, há escolas que fazem um carnaval de resultados, buscando apenas atender tecnicamente às exigências do regulamento. Outras, no entanto, ainda dão preferência a levantar o povo nas arquibancadas e a reverenciar suas origens e feitos. No primeiro caso, entre as escolas que desfilaram na noite de domingo, estão a Imperatriz Leopoldinense e a Unidos da Tijuca. Mesmo trocando o seu carnavalesco, que agora é Max Lopes, a Imperatriz segue a sua tradição de desfiles que buscam muito mais a perfeição técnica e a exuberância da exibição do que despertar a emoção do público. A Unidos da Tijuca, atual campeã, aposta nos efeitos especiais cada vez mais ousados e criativos de seu carnavalesco, Paulo Barros, sem dúvida a figura de maior destaque no carnaval carioca na última década. No segundo caso, está a Mangueira. A mais mítica das escolas de samba do Rio de Janeiro, encerrou a primeira noite de desfiles com uma apresentação marcada pela homenagem, no enredo, a um dos seu grandes vultos, Nélson Cavaquinho, e reverenciando vários de seus integrantes históricos. Antes mesmo do início da apresentação, componentes da escola não conseguiam conter suas lágrimas. Aliás, ao final do desfile da Mangueira, a sambista Tereza Cristina, uma das comentaristas da transmissão de Carnaval da Rede Globo, também chorou, ainda que sua escola seja a Portela. Tereza disse que para quem é do samba, como é o seu caso, não é possível não se emocionar com uma apresentação como a da Mangueira. Hoje, na segunda noite, irá desfilar a Beija-Flor, pioneira do carnaval de resultados e permanente candidata ao título. Resta saber, quando da proclamação da escola campeã, o que irá pesar mais para os jurados, se o apuro técnico, ainda que, por vezes, um tanto frio, ou a emoção que a todos contagia.

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