sábado, 31 de março de 2012

O humor que agride

Já houve quem dissesse, com razão, de que só existem dois tipos de humor: o engraçado e o sem graça. Fazer humor está longe de ser uma tarefa fácil, pois exige talento. Porém, entre os ingredientes para fazer alguém rir não devem constar a grosseria, o preconceito e a vulgaridade. Chico Anysio, recentemente falecido, foi uma demonstração clara de como é possível fazer humor, sendo por vezes bastante incisivo, sem apelar para baixezas. Mesmo quando abordava questões como a homossexualidade, em personagens como Painho e Haroldo, Chico não o fazia de modo ofensivo ou discriminatório. No entanto, de uns tempos para cá, foi surgindo uma nova forma de fazer humor em que os limites do bom gosto foram totalmente rompidos. Os adeptos de tal vertente humorística consideram, ao que parece, que nenhuma abordagem pode lhes ser vedada, pois isso cercearia sua liberdade de criação e expressão. Ocorre que, felizmente, nem todos partilham de tal visão. Em setembro de 2011, durante uma edição do programa "CQC", da Rede Bandeirantes, o humorista Rafinha Bastos fez uma alusão estúpida e grosseira sobre a cantora Wanessa Camargo e seu filho, que estava por nascer. Rafinha, que já tinha "pisado na bola"  em outras ocasiões e se retratado, dessa vez enfrentou uma reação mais dura para seus excessos e, num primeiro momento, foi suspenso por tempo indeterminado do programa, ao qual acabaria por não retornar. Mais tarde, deixou a Bandeirantes e assinou contrato com outra rede de televisão. Parece, contudo, que o fato não serviu de exemplo. Há poucos dias, por ocasião da passagem da data que marcava os 52 anos de nascimento do cantor e compositor Renato Russo, falecido em 1996, Danilo Gentili, outro humorista saído das fileiras do CQC, disse que "Renato Russo estaria completando 52 anos... se tivesse usado camisinha". Para alguns, tomara que muito poucos, a tirada de Gentili pode ter soado engraçada. Para mim, e espero que para a grande maioria das pessoas, foi apenas estúpida, grosseira e homofóbica. Usar a passagem da data como mote para debochar da condição sexual do artista foi algo abominável e desprezível. Revela um comportamento machista, típico de uma sociedade autoritária, incompatível com os tempos democráticos que vivemos no país. Tal e qual seu ex-colega, Gentili "pisou na bola". O tipo de humor que abraçaram, incrivelmente, não faz rir, a não ser aos néscios. Ao contrário, para quem tem um mínimo de sensibilidade, só gera desprezo e indignação.

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