Os cadáveres do fascismo

Os assassinatos da vereadora Marielle Franco, e do motorista que a conduzia, Anderson Gomes, anteontem, no Rio de Janeiro, não deixam dúvidas sobre o estágio político em que se encontra o Brasil. O crime ainda não foi esclarecido, se é que o será, mas, claramente, eles são os cadáveres do fascismo que está tomando conta do país. Se alguém ainda tinha dúvida, esse trágico acontecimento escancarou de vez que o Brasil vive os terríveis desdobramentos de um golpe. A farsa de que o impeachment da presidente Dilma Rousseff foi feito dentro da normalidade constitucional não se sustenta mais. Não há maiores diferenças perceptíveis entre o golpe contra Dilma Rousseff e a ditadura que se instalou no país após a deposição do presidente  João Goulart. A única é a ausência dos militares como protagonistas no golpe atual. Porém, de resto, os mesmos elementos estruturais estão presentes em ambos os casos. Marielle e Anderson são as primeiras vítimas fatais de um processo sórdido, elaborado em conluio entre partidos de direita, o grande empresariado e a imprensa, exatamente como ocorrera no golpe militar de 1964. O alento que resulta de um fato tão repugnante é que atos de protesto e manifestações de revolta se espalharam por todo o Brasil, acendendo a esperança de que as ruas voltem a rugir em busca da restituição da democracia. Marielle era vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL, um partido de esquerda que não faz concessões aos direitistas. Sua atuação sempre esteve envolvida com as causas da cidadania. Numa época de radicalização, com a demofobia sendo brandida pelo governo do presidente golpista e ilegítimo e seus apoiadores, Marielle pagou por sua resistência com a própria vida. O que se pode esperar é que as mortes de Marielle e Anderson não sejam em vão, que elas sirvam para o despertar definitivo do povo brasileiro para a extensão do golpe sórdido que o país sofreu, fazendo com que sua voz não cesse mais de ser ouvida nas ruas, e que o troco seja dado nas eleições de outubro.